Cultura

Quem informa, às vezes, deforma e desinforma

(*) Vilma Lígia Pereira

O que a vaza jato tem mostrado é muito mais do que as façanhas de procuradores e um juiz metido. Tem colocado à mostra o quanto jornalistas estão sendo manipulados e como trabalham por esta manipulação.

Com as informações trazidas à luz pelo The Intercept Brasil a respeito da Operação Lava jato, que nos últimos cinco anos virou notícia como a operação que limpava o Brasil da corrupção, mas que no fundo ganhava um “troquinho” por trás, o Gleen Greenwald arrebanhou simpatia, respeito, mas também antipatias, e vai passar à história como quem atirou no que viu e acertou no que não viu e nem imaginava. Seus colegas de profissão muito deles adaptados em grandes jornais, parecem que só faziam o trivial e foi preciso vir um premiado jornalista internacional para ensinar como ser realmente profissional e ser respeitado por isso. Usando uma palavra que ele sempre menciona “evidência”, são muitas as evidências de que algo vai mal e parece que o defeito já vem lá de longe nos bancos escolares. No Brasil, se tudo termina em pizza, a verdade é que tudo começa na escola.

O Brasil está em ebulição desde que o inominável se ajeitou na presidência desta República em 2019. E como tudo tem conseqüência, as revelações do Gleen vieram de encontro às patacoadas desse desgoverno. Mas, muitos jornalistas ainda não se deram conta de que as revelações do The Intercept desnudam uma operação que já veio com segundas intenções no seu bojo. O que o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores capitaneados por Deltan Dalangnol fizeram na dita operação foi encobrir a verdadeira corrupção e banalizar o judiciário (e este, de quebra, mostrou que pode banalizar-se sozinho). Mesmo assim, o que os jornalistas desses grandes jornais querem saber é sobre o “hacker” e sobre a “fonte” e sobre o que ele pagou por essas informações. Em qualquer lugar do mundo, o que o jornalista norte americano vem revelando faria um estardalhaço em todo o jornalismo e mudanças seriam necessárias e prisões e como diria meu falecido pai, o diabo a quatro teria acontecido. Aqui não. Aqui é Brasil. A terra do processo lento e gradual. O fim da escravidão no Brasil foi lento e gradual. A abertura política, após os 21 anos de Ditadura Militar, foi também lenta e gradual e é possível que a vaza jato acabe lenta e gradualmente por desinteresse de pessoas que lidam com notícias e que têm a obrigação de repassá-las ao público e não o fazem porque ainda não entenderam a gravidade do que passou a ser a atuação da tal Lava jato. Só o que querem saber é a fonte e o hacker de Araraquara que se mostrou um bandido profissional, mas que só está preso por sua atuação como hacker pé-de-chinelo. Como se seus outros crimes não importasssem.

Na entrevista dada ao Programa da TV Cultura Roda Vida nessa segunda-feira, 02/9, Glenn Greenwald, teve que ter paciência para ensinar o que é jornalismo para seus colegas brasileiros que sempre que os ouço em entrevistas várias, parecem que estão a serviço do Bolsonaro. Tentam encurralar o premiado profissional que deu de bandeja um furo jornalístico e eles sequer entenderam. Ficam tentando pegá-lo em contradição o tempo todo. E entre eles não há discordância. São como uma orquestra ou um time que convive e treina 24 horas. Na última entrevista dada pelo ex presidente Lula à BBC, a entrevistadora usou o mesmo recurso tentando fazer o entrevistado cair em uma teia com perguntas arranjadas para prender incautos.  Foi preciso que Lula chamasse para si a responsabilidade de ensinar o verdadeiro jornalismo e atualizar as notícias requentadas da sua entrevistadora.

Se já não bastassem, a Globo e os demais veículos televisivos fazerem vista grossa para a Vaza jato, ainda temos que suportar os jornalistas enviados especiais do desgoverno para brincarem de gato e rato com quem não está a fim disso? Tentam enrodilhar o Glenn colocando questões pessoais ou outras irrelevantes, mas não acham descabido um juiz fazer o que o Moro fez e que ainda continue exercendo uma função dentro do desgoverno Bolsonaro sem que ninguém se incomode com isso. Esses jornalistas estão muito preocupados em blindar Bolsonaro. São como o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecher falou há  um século atrás: “aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso”. Eles nem chegam a dizer que é tudo mentira, fazem pior, ignoram. E ignorar o que a dupla Dallagnol e Moro fez contra o Brasil nesses 5 anos é má-fé. Depois de uma eleição baseada em falsas notícias, de facadas discutíveis, as faculdades deveriam começar a pensar que tipo de jornalismo elas ensinam e qual o tipo de profissional vai levar seu nome à frente. Porque isso coloca em risco até o nome das entidades que os formam.

Mais uma vez, penso que precisamos ler jornais e revistas ou ver a TV com olhos mais que críticos. É preciso ver nas entrelinhas. A pergunta que eu mais abomino é “Você viu o Fantástico ontem?” Não, não vi e tenho raiva… Mas, às vezes, até paro para saber o que foi de tão fantástico que a pessoa viu e queira me dizer. Enquanto fala, penso que ela deveria era ler um bom livro e começar a pensar que estas informações fantásticas tomaram lugar de alguma coisa muito mais fantástica que foi escondida, sublimada. O que de fato ela deveria saber eles não contam. Eles sequer acreditam na inteligência dessas pessoas.

Pois é. Depois de descobrir o que deveria saber, você jamais vai ficar um domingo à noite sentado estatelado no sofá acreditando que não há mais nada a fazer. E essa anomia que tomou conta de nós, começou assim. A mídia sabe jogar no ar aquela notícia que choca. Depois ela vai jogando as amenidades… E quando a gente vê já está tão enternecida que não consegue ver a maldade e o desvio de foco que certos jornalistas foram treinados para usar. São experts em transformar notícia em fofoca, o grave vira banal. Mas, se necessário, essa fofoca vai virar manchete nos jornais amanhã. Porque eles não ignoram o que acontece. Esses pretensos jornalistas querem, é na verdade, só “tirar o Petê.

(*) Vilma Lígia Pereira

Agente de Adm. (PMI)

Coletivo Aqualtune

CPF 02346258806

Vilma.ligia@hotmail.com

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