Cidades

Qualidade do atendimento no Setor de Identificação abusa do cidadão

Sem acomodações, usuários esperam sentados no chão, sem água, sem banheiro, sem onde limpar as mãos: um verdadeiro descaso      (Fotos: Gizelle Ferreira)

IPATINGA – O Setor de Identificação da Polícia Civil sempre foi alvo de constantes reclamações, e como não poderia ser diferente, na semana passada novas queixas chegaram à redação do DIÁRIO POPULAR. Na última sexta-feira (14), a reportagem foi ao local, situado na avenida Macapá, no bairro Veneza I, e pôde constatar várias cenas que se repetem praticamente todos os dias com usuários do serviço e funcionários do departamento. A precariedade do serviço é incompatível com uma cidade do porte econômico de Ipatinga.

Sala cheia e apenas seis cadeiras disponíveis para acomodar quem aguarda pelo atendimento. Na falta dos bancos, o chão torna-se o único recurso para descansar as pernas depois de mais de duas horas em pé na fila. A espera pelo atendimento é tão demorada que as pessoas chegam a tirar um cochilo.

ABUSO

Foi o que aconteceu com Fábio de Souza, 32 anos, morador do bairro Canaãzinho. Chegou ao setor por volta de 8h e às 10h ainda estava à espera de atendimento. Como não conseguiu manter-se acordado, porque havia trabalhado a noite toda, assim que surgiu uma vaga em uma das poucas cadeiras existentes no local, resolveu tirar um cochilo. O sacrifício era para tirar a segunda via de identidade. “A burocracia é muito grande. Uma pessoa só para atender esse tanto de gente. Quando cheguei aqui a situação estava pior. Fiquei esperando em pé por muitas horas de olho em um lugar para sentar. Acho isso um abuso”, lamenta.

TUDO RUIM
A dona de casa Nilza Pereira da Silva, 60 anos, contou que antes mesmo de amanhecer o dia já estava na porta do setor de identificação. Tudo para garantir um dos primeiros lugares. Mas até as 10h ainda não havia sido atendida. “Vim lá do Planalto II e quando cheguei aqui ainda estava escurinho. Estou aqui até agora com sono, fome e sede. Mas, infelizmente, a gente não pode falar nada com os funcionários porque em todo lugar está assim mesmo. Quem precisa tem que se virar”, disse.

Fabiane do Rosário, 29 anos, também chegou ao setor de identificação com duas horas de antecedência para tirar o seu RG. Como não havia lugar para se acomodar, o jeito foi se sentar no chão para esperar o atendimento. “Tudo aqui está muito ruim. A cadeira pode até ser o de menos, mas não tem banheiro para a gente usar. Péssima qualidade no atendimento”, reclama.

FUNCIONÁRIOS

Cinco funcionários atendem no local. Três deles são do Estado e outros dois cedidos pela Prefeitura Municipal. A situação deles também não é diferente dos usuários. O Setor de Identificação não dispõe de uma linha telefônica, o que obriga os servidores a usarem os telefones particulares a serviço. Os funcionários também reclamaram da lentidão no sistema, que colabora ainda mais para a demora no atendimento aos usuários.

DIGITAIS
Um dos momentos mais constrangedores vividos tanto pelos usuários quanto para os servidores é a hora em que são colhidas as digitais. O local também não possui uma pia para lavar as mãos. Conforme os servidores, para resolver o problema, é feita uma “vaquinha” para a compra de estopa para que os usuários possam limpar as mãos.

Carolina, de apenas cinco anos, foi acompanhada do avô para tirar a Carteira de Identidade. Depois de ver os dedos todos sujos perguntou: “Onde lava”? O avô dela, cuidadosamente pegou a estopa e limpou os dedos da criança, dizendo que aquela era a única forma e que ao chegar em casa o problema seria resolvido.

RESPOSTA
O Delegado Regional Gilberto Simão, ao ser informado pela reportagem das reclamações, reconheceu o problema e disse que era inadmissível que os usuários ficassem sentados no chão. Ainda na sexta-feira passada, o delegado garantiu que o problema das cadeiras seria resolvido de imediato e providenciou as acomodações. “A situação estava ainda pior. Há pelo menos 15 dias eu consegui mandar um ar condicionado para lá e, infelizmente, não tem banheiro”, reconheceu.

ESPAÇO

A expectativa, segundo o policial, é que o problema se resolva por completo até março do ano que vem, quando um espaço que fica ao lado da Delegacia Regional no Centro (onde funciona uma entidade de recuperação para dependentes químicos) seja desocupado e o Estado possa reaver o terreno que lhe é de direito. A previsão é que parte do local seja usado para a implantação de um Centro de Internação Provisória para Adolescentes Infratores e a outra parte deverá ser usada pela Delegacia de Trânsito, Ciretran e o Setor de Identidade. “E quando o CIA permanente estiver pronto na área cedida em Santana do Paraíso a Delegacia Regional vai ocupar os dois espaços e poderemos melhorar nossa infraestrutura de atendimento. Essa é uma conversa e um acordo já feito com o Secretário de Defesa Social, Rômulo Ferraz”, garantiu o delegado.


Local também não dispõe de pia para lavar as mãos

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