Cidades

Prefeito apequena Legislativo e propõe governo de continuidade

O prefeito de Ipatinga, Jesus Nascimento, em entrevista coletiva e vídeo que circulam nas redes sociais, comete uma série de gafes que, na condição de advogado, professor, doutor e proprietário da Faculdade de Direito, jamais poderia cometer. São “equívocos” que, ou jogam com a ignorância das pessoas, tentam fazê-las de idiotas ou resvalam nos descaminhos do engodo, já que não se pode dizer que tais declarações são oriundas do purismo e da inocência política. De outro ângulo, pode ser também uma conseqüência das más companhias ou desorientação provocada pela ascensão ao poder municipal.
Depois de assumir o cargo numa clara manobra do prefeito Sebastião Quintão para tentar uma saída honrosa e manter o poder na figura do vice-prefeito, Jesus Nascimento, tenta explicar que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de cassar a chapa não se aplica ao caso ipatinguense. Em tom professoral pergunta, para logo em seguida ele mesmo responder: “O que é normal no Brasil? O normal é quando o prefeito sai do cargo, o vice assumir”.
Esta pseudo “normalidade” tem muitos vieses e nem sempre é o vice quem assume, principalmente quando a chapa é cassada, como é o caso de Ipatinga. Noutros casos, o vice assume após um golpe, como fez Michel Temer. E em muitos casos, dependendo de cada situação, assumem presidentes de câmaras legislativas ou tribunais.
No caso específico, o ministro Luiz Fux, na sentença foi claro: “Como conseqüência, impõe-se a execução imediata dos efeitos do pronunciamento desta Corte, no afã de afastar o Prefeito e o Vice-Prefeito do cargo e, em seguida, proceder a convocação de novas eleições, independentemente do trânsito em julgado, nos termos da Art. 224, parágrafo 3º do Código Eleitoral”.
Em seguida, Jesus Nascimento comete outro “deslize” ao tentar mudar o curso da decisão judicial por conta própria, além de fazer uma provocação extremamente deselegante, o que não é característica sua, porque normalmente tem atitudes de um gentleman, ao afirmar que o presidente da Câmara Nardyello Rocha não tem nada a ver com a sucessão e a eventual condução de um novo processo eleitoral na cidade e que a “Câmara Municipal tem um trabalho mais restrito”. Num momento em que a crise institucional brasileira exige que todos se agigantem, desqualificar o Poder Legislativo soa esquisito nestes tempos estranhos. Diz o prefeito: “Essa questão aí, de de repente colocar o presidente da Câmara e a chapa se afastar é teoria de alguns jovens que são pouco entendidos na teoria da Justiça (sic) e que querem enfrentar situações que atendem às vezes a um caso lá no Nordeste – que é o meu cumpadre do Nordeste [em tom de ironia, insinuando casuísmos]. Então, eles tendem a fazer uma mudança para atender alguém e para atender alguém aqui e alguém ali eles começam a mudar. O que é normal? O prefeito sai, entra o vice; o presidente sai, entra o vice. Nós temos que dar sequência. Por que isso? Porque o presidente está trabalhando com o vice-presidente, o prefeito está trabalhando com o vice-prefeito”.
Então, tá. Mas esta relação harmoniosa nem sempre uma regra de ouro.
Bom, mas aí, a narrativa já tem uns componentes meio desconexos que não condizem bem com a trajetória de Jesus como exímio orador. É aí que talvez ele sofra as influências das amizades, senão vejamos: “E, aqui entre nós, nós demos uma verdadeira demonstração de amizade e acompanhamento político e administrativo para esta cidade. Por isso que nós vamos dar sequência ao trabalho bem organizado de Sebastião Quintão”.
Quer dizer, não bastasse andar em más companhias, Jesus Nascimento ainda quer dar continuidade ao descalabro administrativo que tem sido o governo municipal até agora. Não há seriedade nenhuma em dizer que irá dar continuidade ao “trabalho bem organizado de Sebastião Quintão”, a menos que viva noutra estratosfera, no mundo paralelo de Alice.
Em sua cutucada final, o prefeito Jesus Nascimento, talvez ainda pouco afeito ao cargo e à liturgia que dele emana, mesmo em simples coletivas de imprensa, diz: “Então, o natural é sair o prefeito e entrar o vice, não é mudar a chapa. Não é colocar vereador que foi eleito para fazer leis, para executar a administração que é, sobretudo, um trabalho de pensar na cidade, pensar em todos os campos e não simplesmente ocupar a posição de uma Câmara Municipal que, sem dúvida nenhuma, em relação à cidade, é um trabalho mais restrito”.
Muito diplomático…

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