Policia

‘Pitote’ é condenado a 16 anos

IPATINGA – Dois anos de espera e uma sentença. Alessandro Neves Augusto, o ‘Pitote’ foi condenado a 16 anos pela morte do jornalista Rodrigo Neto de Faria e por uma tentativa de homicídio ocorrida no dia 8 de março de 2013, no bairro Canaã. A condenação foi lida após nove horas de julgamento pelo juiz que presidiu o Júri Popular, Antônio Augusto Calaes.

A pena imposta ao réu pelo crime de homicídio foi de 12 anos de prisão, limite máximo para réu primário. Pela tentativa de assassinato contra um amigo de Rodrigo – que estava com ele no dia do crime -, o juiz entendeu que foi uma tentativa branda, já que a vítima não foi atingida, e fixou a pena em 4 anos.

No somatório, Alessandro Neves Augusto ficará teoricamente preso por 16 anos em regime fechado. Na prática, pelos dois crimes, o réu poderia ser solto em pouco mais de 8 anos após cumprir 2/3 da pena, levando-se ainda em consideração os dois anos que se encontra detido. Porém, pesam contra ele outros dois crimes contra a vida: uma dupla tentativa de homicídio em Vargem Alegre e o assassinato do fotógrafo freelancer Walgney Carvalho.

Após a leitura da condenação, “Pitote” deixou o salão do Tribunal do Júri, sendo escoltado pelo Comando de Operações Especiais do Sistema Prisional à Penitenciária Nelson Hungria em Belo Horizonte, onde ele se encontra preso.

O JULGAMENTO
Alessandro chegou por volta de 8h20 ao Fórum de Ipatinga. O julgamento previsto para 9h começou com meia hora de atraso. A única testemunha a ser ouvida foi o delegado Emerson Morais. O policial respondeu às perguntas do Promotor de Justiça Francisco Ângelo Assis e relatou todas as provas técnicas colhidas durante a apuração do caso.

Emerson foi convicto ao dizer que a morte de Rodrigo Neto foi decidida em uma mesa de bar. “Policiais militares, civis, políticos, assessores e os dois acusados (Alessandro e Lúcio) estavam em uma mesa de bar quando começaram a dizer que Rodrigo estava “falando demais” e decidiram pela morte dele. O Lúcio, que era novo na polícia, e Pitote pegaram o serviço para se vangloriar dentro do grupo”, disse.

RÉU
As outras testemunhas que haviam sido intimadas acabaram sendo dispensadas. Tanto a defesa como a acusação entenderam que o depoimento do delegado era suficiente para que o julgamento passasse para as próximas fases.
Em seguida, Pitote sentou-se diante do juiz para responder as perguntas.

O magistrado leu um depoimento que teria sido prestado por “Pitote” ao DHPP, porém o acusado negou ter dado as declarações à polícia e ainda disse que foi coagido. “Não entendo por que estou sendo acusado. O delegado (Emerson) plantou todas as provas contra mim e disse na época que eu seria indiciado porque sou preto e pobre. Ele disse também que já estava há vários dias na cidade e que me prenderia pelo crime”, declarou o réu.

Ainda em sua defesa, “Pitote” disse que no momento do assassinato de Rodrigo estava em casa, mas acabou entrando em contradição ao dizer que naquele dia, após sair de um bar, passou primeiro na casa de Lúcio Lírio para trocarem de veículo. Lúcio foi condenado em agosto do ano passado, também a 12 anos de prisão, pela morte do jornalista.

DEBATES
A acusação foi representada pelo Promotor de Justiça do Controle Externo da Atividade Policial Francisco Ângelo Assis. Ele mostrou aos jurados todas as provas técnicas colhidas pelo DHPP em seis meses de investigação. Ele apresentou as ligações captadas pelas antenas de telefonia entre Lúcio e Alessandro, momentos antes e depois do crime.

O promotor mostrou ainda as imagens que pegaram a picape de Lúcio fazendo a rota de fuga para “Pitote” e por fim ressaltou que o exame de balística apontou que as balas recolhidas dos corpos de Rodrigo Neto e Walgney Carvalho saíram da mesma arma. “Ele (réu) poderia ser empático dando uma confissão, mas preferiu resguardar os interesses de outros”.

Délio Gandra, assistente de acusação, apelou ao emocional ao citar a viúva de Rodrigo e o filho de 8 anos que ainda não sabe que o pai foi assassinado. “Ele (Pitote) é um espectro do crime, matador sanguinário. Não pode dar “refresco” para ele, porque senão ele volta a matar”, disse.

SERGINHO
Sobre a existência de “Serginho”, o MP mostrou tratar-se de Sérgio Vieira da Costa, que já morou nas ruas Terezópolis e Campinas no bairro Veneza I. O promotor disse que ele e policiais foram até o local e conseguiram conversar com a irmã de Serginho, que afirmou não ter notícias do irmão há muitos anos.

“A irmã dele nos disse que ele está desaparecido há mais de três anos porque está sendo procurado pela polícia e que inclusive acredita que o irmão já esteja morto. Ou seja, quando Rodrigo foi assassinado o Serginho já estava sumido. Isso é uma mentira que a defesa quer plantar para tentar inocentar o seu cliente”, ressaltou o promotor.

DEFESA
Desde que “Pitote” foi preso pelo DHPP em junho de 2013, o advogado de defesa Rodrigo Carmo apontou Sérgio Vieira da Costa como sendo o executor de Rodrigo. Serginho também aparece como autor da dupla tentativa de homicídio ocorrida em 2012, em Vargem Alegre, e o assassino de Walgney Carvalho (assassinado em abril de 2013, por queima de arquivo).

Durante o julgamento, ele leu os depoimentos de colegas de trabalho de Walgney Carvalho e tentou desconstruir a imagem do fotógrafo perante o Júri. Para o defensor, Carvalho era o homem que pilotava a moto para Serginho.
“Carvalho era um homem desequilibrado, louco e não gostava de Rodrigo Neto. Isto ficou mais evidente quando o jornalista foi trabalhar no mesmo jornal que Walgney. Ele ainda teria dito que tiraria Rodrigo do jornal nem que fosse a bala”, disse.

‘Pitote’ chorou quando seu advogado disse que ele não passava de um homem preto, pobre e lavrador, que veio tentar a vida em Ipatinga. Outro advogado de Alessandro, Reginaldo Malaquias, também apelou para a mesma estratégia discriminatória ao dizer que “seria muito fácil condenar um homem preto, pobre e feio”.

RECURSOS
Tanto o MP quando a defesa de ‘Pitote’ pretendem recorrer da decisão. Rodrigo Carmo disse que o julgamento foi completamente contrário às provas existentes nos autos. “Levaremos este caso até Brasília se for o caso. Vamos tentar mudar o rumo desta história”, disse.

O Promotor de Justiça ponderou a condenação, considerando favorável o reconhecimento da sociedade por meio dos jurados em culpar o réu. Sobre a pena de 16 anos, Francisco Assis disse que a condenação deveria ser acima do mínimo legal. “Em minha opinião, tecnicamente teria como a pena ser mais alta, mas o juiz entendeu atribuir penas mínimas tanto para o homicídio consumado quanto para a tentativa de homicídio. O MP discorda e iremos recorrer desta condenação”, finalizou.

 

Defesa de “Pitote” usa de ironia com a imprensa

Ao conceder entrevista à imprensa ao final do julgamento o advogado de Alessandro, Rodrigo Carmo, usou da ironia e do sarcasmo ao questionar aos jornalistas se eles estavam satisfeitos com o desfecho da “novela” Rodrigo Neto.

“Por mim, acho que acaba agora esta novela “Rodrigo Neto”. Se algum dia aparecer um jornalista com a mesma coragem dele, será mais um para estatística. E o bandido Serginho está à solta pronto para pegar qualquer um de nós, eu advogado, ou qualquer um de vocês repórteres que estão aí nas ruas na profissão de vocês”, debochou.


O juiz Antônio Augusto Calaes, da 2ª Vara Criminal, presidiu o júri


Um forte esquema de segurança foi montado nas proximidades do Fórum

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