Cidades

Os horrorosos caixotes amarelos do Coelho Diniz

(*) Fernando Benedito Jr.

Subitamente surge da terra e se instala na paisagem das cidades o imenso caixote amarelo, com sua imponente feiúra. É mais um prédio dos supermercados Coelho Diniz. Independente da perspectiva que se olhe, lá está ele, feio e grandioso, dominando o cenário, com sua quadratura horrorosa. Difícil prever o que pensariam, por exemplo, Le Corbusier ou Niemeyer, sobre o estilo da obra, mas a julgar pelo que já construíram, seriam críticos. Eu sou. Acho os caixotes amarelos do Coelho Diniz de um extremo mau gosto. Sua interferência na paisagem urbana das cidades é uma violação dos sentidos, uma verdadeira poluição visual autoritária e irremovível, que deixa as retinas ainda mais fatigadas.

O problema é puramente estético. Não se trata de questionar a funcionalidade da obra, a importância econômica do empreendimento, quantos empregos vai gerar, etc. Trata-se na verdade do incomodo visual, que chega a ser desrespeitoso porque se impõe de forma insolente, obrigando o cidadão a admirar a aquela coisa esquisita e amarela mesmo que ele não queira.

Certamente, com o mesmo dinheiro que constroem estes horrorosos caixotes amarelos, que emparedam e enfeiam as cidades, o Coelho Diniz poderia muito bem pagar arquitetos para desenvolverem projetos menos agressivos aos sentidos, principalmente ao visual – depois se torna repulsivo. Existem outros conceitos arquitetônicos, mil possibilidades que seriam menos danosas às paisagens urbanas. E nem precisa ser uma obra de arte. Mas por favor, tirem esse caixote do sky line das cidades e da vida das pessoas, já tão sofridas e amarguradas.

Construíram uma geringonça desta em Coronel Fabriciano que avista-se ao longe, da BR 381, vê-se lá aquela coisa amarela empalidecendo a cidade com seu excesso de feiura. Adeus catedral, adeus igreja matriz, quase não deixa ver o Morro do Carmo, porque o conjunto da obra domina de tal forma o cenário que encaixota e oprime a cidade. É muito feio.

Agora fizeram outro caixote amarelo no bairro Cidade Nobre, em Ipatinga. Outro desastre ambiental, de tanto mau gosto, fincado no coração da cidade. É um verdadeiro obstáculo visual. Dependendo do ângulo que se vê – quem vem pela avenida Manaaim, por exemplo – tem-se um choque, como uma topada: de repente, surge à sua frente aquele troço quadrado enorme e amarelo.

Interessante é que fazem estas intervenções horrendas na paisagem das cidades e ninguém fala nada. Os prefeitos batem palmas, os departamentos de fiscalização observam os detalhes técnicos, as secretarias municipais ajudam nas obras, facilitam a implantação do grande caixote amarelo. Tinham que ter pelo menos um Departamento de Sugestão, que tivesse coragem de virar pro ricaço do dono do supermercado e falar a verdade com ele. “Pô, meu filho, esse troço seu é feio demais. Dá uma melhorada aí no projeto e volta aqui pra gente conversar”.

Mas, não. Tratam o ricaço do dono do supermercado, o deputado, como seu fosse Deus, dão pra ele a cidade e as retinas alheias. Beleza, mas não vou tolerar calado!

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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