Cidades

Os crimes ambientais e a cumplicidade das administrações

Não é de hoje que a gente vem acompanhando os “acidentes” com as construções de barragens das mineradoras em torno das cidades brasileiras. O país tem atualmente quase 200 barragens de mineração com alto potencial de danos à natureza e à população. Minas gerais, por exemplo, virou um verdadeiro queijo suíço. Em apenas três anos, duas pequenas cidades sofreram desastres semelhantes após o rompimento de barragens. O acidente criminoso em Minas Gerais nas cidades de Mariana e Brumadinho por parte das mineradoras é simplesmente um pequeno exemplo da crise de gestão também por parte do poder público que não evidencia a sua população os riscos e os perigos reais que são as instalações desse tipo de empreendimento próximo aos municípios. Muitos relatórios já existiam inclusive do Ministério Público (MP) sobre a alta periculosidade dos possíveis rompimentos dessas instalações.

É preciso destacar que os municípios abrangidos pelas mineradoras podem levar até três por cento dos royalties sobre o faturamento bruto da empresa. Essa falta de responsabilidade na busca desenfreada de recursos econômicos por parte dos prefeitos (as) não tem considerado o prejuízo e a perturbação social, perdas de inúmeras vidas humanas e a irrecuperabilidade dos danos ambientais onde muitas vezes as regiões possuem grandes áreas de preservação permanente. Rios e nascentes são poluídos, há morticínios de animais de espécie em extinção e a água fica totalmente sem condições de potabilidade para o consumo humano. Eu faço uma pergunta aos leitores, os gestores municipais estão preocupados com tamanho desastre ou eles querem mesmo é somente o recurso financeiro para justificar que estão fazendo algo pela cidade? O orçamento de uma cidade não deveria contar com esse tipo de recurso, esta alta dependência de previsão de arrecadação através dos royalties, compromete toda máquina pública uma vez que o faturamento e a produção das empresas de mineração apresentam índices variáveis.

Agora aguardamos mais uma cena do próximo capítulo, o rompimento de mais uma barragem em Barão de Cocais com a previsão de uma tragédia inimaginável. Uma usina que já está a mais de três anos inativa e nenhuma medida preventiva foi tomada por parte do poder públicoe por parte da empresa durante todo esse tempo. Os moradores estão evacuando a cidade e o clima é de pânico. Muitas pessoas com depressão e problemas psicológicos por motivo de grande apreensão do caso. Temos uma bomba relógio que não pode ser desativada em curto prazo mesmo que haja qualquer medida paliativa. Provavelmente teremos mais pessoas desalojadas pela lama. Histórias que vão se perder ao longo dos anos e um triste final de mais um descaso do interesse econômico. Seguimos acompanhando a tragédia de cada dia, tenho certeza que o colapso não é da natureza, mas sim do comportamento humano.

(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor.

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