Cultura

O que queremos ver?

(*) Walber Gonçalves

A pergunta que intitula este artigo simboliza uma das maiores características da sociedade atual. Nela constatamos um descaso com a justiça e ao mesmo tempo uma ratificação daquilo que vem se enraizando na sociedade contemporânea: ver apenas aquilo que convém. 

Se é conveniente enxergamos, se não, preferimos fingir que nada está acontecendo. O fato acontecido pode ser praticamente idêntico, mas os aplausos ou críticas dependerão de quem os praticou. Dependerão, na mais pura Lei de Gerson, se poderemos ou não tirar alguma vantagem.

Na era dos extremos não nos importamos em ser minimamente coerentes com as nossas opiniões e visões da realidade. Pelo visto os comportamentos e atitudes dos extremistas denotam apenas uma coisa: estabelecer a ditadura de suas ideias e posições, mesmo que digam o contrário. Muda-se de posicionamento como se muda de roupa, basta apenas saber quem o cometeu. Não refletimos sobre o ato, sobre o fato, e sim se quem o praticou deve ou não ser protegido.

Buscar o justo meio, o equilíbrio das ideias e posicionamento, como pretendia e propunha o filósofo grego Aristóteles, torna-se cada dia uma tarefa mais difícil. Demonstra a realidade dos tempos estranhos que estamos vivendo: a era dos extremos.

Quando nos interessa vemos corrupção em tudo, já quando não interessa conseguimos as melhores desculpas ou justificativas; quando por algum motivo precisamos da polícia queremos que ela atue, todavia, quando envolve outros a chamamos de truculenta; quando uma notícia nos agrada a estampamos em nossas redes sociais, quando acontece o contrário dizemos que é comprada; quando alguém da mídia fala de quem não gostamos, aplaudimos, mas quando acontece o contrário clamamos por censura ou outra punição. Queremos as regras para os outros, mas quando se aplica a nós a desmerecemos. Aplaudimos tudo aquilo que sabemos que é errado, quando nos convém é claro, até o dia que acontece conosco e tudo muda.

A falta de um olhar minimamente livre nos afasta da sensatez, da justa e equilibrada visão que deveríamos ter dos acontecimentos, independente de quem os praticou.  Chega de relativizar o que não se deve relativizar. Chega de ser politicamente correto com aquilo que não deveríamos ser. Não é possível mais viver de preconceitos sendo que é possível construir um conceito que nos leve a entender e compreender os fatos.

Tudo vemos, basta querer e ter um olhar atento! Só existem respostas para aquilo que queremos responder. As perguntas estão se tornando infinitas, na mesma proporção que nossa conveniência também. É chegada a hora de enxergarmos a vida através dos clamores da justiça, da dignidade, da construção de uma sociedade em que possamos ser livres para pensar, expressar e acima de tudo viver como seres humanos.

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

prof.walber@hotmail.com

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