Cidades

Ô meu filho, protesto é contra

(*) Fernando Benedito Jr.

Os adoradores de milicianos, torturadores e da desgraça nacional inauguraram um novo tipo de comportamento, o protesto a favor. Nunca tinha visto isso antes e é de uma imbecilidade tão grande quanto a própria adoração da chibata pelo torturado. Não sei exatamente o que leva as pessoas a se comportarem desta forma, talvez um certo masoquismo, um bom bocado de ignorância, opção ideológica mesmo, ódio e preconceito, a firme decisão de não mudar a escolha do voto, ainda que equivocado, enfim…

De qualquer maneira, é chegada a hora de perceber que não está bom. Que é preciso mudar o comportamento do governo e não é com protesto a favor que se faz isso. É a mesma coisa de humor a favor, perde a graça.

No caso do presidente do gado com muito orgulho este negócio de fazer manifestação a favor, em defesa do governo, da intervenção dos militares, da tortura, da censura, do AI-5, do golpe de 64, e contra a democracia, pelo fechamento do Congresso e do STF, etc, é uma coisa que já está passando dos limites da tolerância democrática. Como diria Ciro Gomes, não dá para ser elegante com isso.

Trata-se de uma gente grossa, essa que faz o protesto a favor. Interessante é que, em sua maioria, são dondocas, empresários, classe média alta que se entende a própria burguesia quatrocentista paulistana. Defende a posse de armas e atira em quem grita Fora Bolsonaro!, considera que milicianos são heróis, tem visão seletiva sobre corrupção, acha que pobre não pode ir à Disney nem andar de avião.

Agora, é interessante o pensamento do gado a favor. Acham que o protesto contra só vale pro outro, pro adversário ou inimigo (como preferem). Tipo: democracia boa é a minha, o resto é ditadura. O problema é que defendem a volta da ditadura. Realmente, são uns minions. Uma gente estranha. O filho do presidente do gado orgulhoso, por exemplo, corroborou a teoria de que o Partido Comunista Chinês é o agente propagador do coronavirus. E o gado orgulhoso vê aí fundamentos de verdade. Da pós-verdade, a única que vale, que é a minha e se sobrepõe à realidade e aos fatos objetivos.

É essa pós-verdade que os leva a viver cegamente, alucinados de amor pelo mito. Que o façam. Mas deixem o haitiano falar, afinal, foi um dos poucos que conseguiu em poucas palavras resignificar tudo aquilo que o gigante dos pés de barros representava. Presidente, acabou, disse profético e calmo.

E, sem medo de errar, acabou mesmo.

O presidente convocou um panelaço a favor para depois do panelaço contra. De onde estava, não ouvi nem o bater de colheres.

(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.

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