Cidades

O governo não tem capacidade e competência para conter a Covid-19

(*) Fernando Benedito Jr.

A sociedade brasileira está largada à própria sorte diante do avanço da pandemia do coronavírus no País. A segunda coletiva de imprensa convocado pelo Ministério da Saúde na noite desta terça-feira deixa isto muito claro. Inutilizado, o ministro Nelson Teich não teve coragem de defender o isolamento social no momento em que se anuncia que as mortes pelo coronavírus superam as da China e que São Paulo é a nova Wuhan. Teich não acrescentou nada ao que se sabe, isto é, o coronavírus avança e o governo federal não tem nenhum plano para contê-lo, nem para reduzir as mortes, nem para atender os doentes. Estão deixando acontecer. O ministro e seus secretários anunciam o número de mortes, repetem que o Brasil tem dimensões continentais, que a situação em cada estado e em cada cidade será tratada caso a caso, sem linearidade, e pronto encerram a entrevista sem acrescentar mais nada.

Diante do crescimento exponencial de casos de contaminação e mortes, não restou ao ministro outra coisa senão admitir que a situação está piorando. Constatação óbvia considerando que não há isolamento social, não há testagem, não há EPIs para profissionais de saúde, não há respiradouros para doentes e em breve não haverá UTIs nem hospitais que cheguem. Diante deste quadro é possível que, mais breve do que se pensa, atinjamos o patamar presidencial de 70% de brasileiros contaminados pelo coronavírus.

Mais de uma vez o ministro Nelson Teich, cabisbaixo e envergonhado, aparece publicamente para não dizer nada ou repetir a mesma coisa. Outra repetição é que não consegue adquirir os testes, respiradores e outros insumos anti-coronavirus porque a concorrência é muito grande e o Brasil está perdendo a guerra, seja porque a demanda é alta e os fabricantes não dão conta de atender ou porque os países ricos pagam mais caro e o Brasil fica a ver navios. A esta altura já deveria estar investindo nos laboratórios e centros de pesquisa nacionais, nas universidades brasileiras que estão desenvolvendo protótipos de respiradores e testes.

Diante da incapacidade do governo federal de fazer qualquer coisa, tomar qualquer iniciativa, os estados e municípios (incluem-se aí todos os do Vale do Aço) acabam esmorecendo e afrouxando as regras de isolamento social, – muitos deles de forma exagerada e descontrolada, como é o caso de Ipatinga ao liberar o shopping, centros comerciais, academias, bares e restaurantes, sem um balizamento científico mais amplo. Haja Deus para operar tanto milagre nestas cidades.

Sem rigor no isolamento – a medida mais barata, viável e eficaz –, acabam seguindo o exemplo dos governos estadual, que acha que o vírus deve circular, e federal, que acha que nem tem pandemia e tudo não passa de uma conspiração para derrubar o presidente. E fazem a opção pelo rigor mortis.

Tamanha mortalidade, por negligência, é genocídio que chama.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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