Cultura

O dia em que a terra parou

(*) Walber Gonçalves

Quem gosta de ouvir Raul Seixas ao ler o título desse texto se lembrou de uma das suas músicas. A letra da canção, escrita por ele e Claudio Roberto, retrata como seria o dia em que a terra teria parado. “No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa, como se fosse combinado em todo o planeta”, ficando todo mundo em casa, ninguém faria nada e automaticamente a terra pararia.

Assim, segundo Rauzito, entre outras coisas “o empregado não saiu pro seu trabalho, pois sabia que o patrão também não tava lá; dona de casa não saiu pra comprar pão, pois sabia que o padeiro também não tava lá; e o guarda não saiu para prender, pois sabia que o ladrão, também não tava lá; E o ladrão não saiu para roubar, pois sabia que não ia ter onde gastar; e o aluno não saiu para estudar, pois sabia que o professor também não tava lá; e o professor não saiu pra lecionar, pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar; o comandante não saiu para o quartel, pois sabia que o soldado também não tava lá; e o soldado não saiu pra ir pra guerra, pois sabia que o inimigo também não tava lá; e o paciente não saiu pra se tratar, pois sabia que o doutor também não tava lá; e o doutor não saiu pra medicar, pois sabia que não tinha mais doença pra curar…”

Dentro das devidas proporções e fazendo uma simples analogia, tudo leva a crer que a letra da canção está encontrando seu espaço no tempo. Se a música era uma previsão, parece que ela está se concretizando, pois, a sensação que se tem é que as coisas estão parando.

Recordemos as comemorações de natal, quase não vemos mais luzes e enfeites; em vários lugares o carnaval do agito está dando lugar ao carnaval da “calmaria”, sem folia; vários hospitais estão fechando suas portas ou mendigando recursos, pois não conseguem mais atender à população e muito menos diagnosticar doenças, há uma tal virose; em muitas escolas encontram-se pessoas, alunos e professores, mas não se busca a educação ou o conhecimento, para isso as mentes parecem estar paradas;no futebol, até mesmo os amantes da bola, não conseguem mais saber quem são os selecionáveis, muito menos escalar a seleção, olha a que fase chegamos; as redes sociais estão minando os relacionamentos interpessoais, o cara a cara, o contato, as conversas que possibilitam os bons conflitos de trocas de ideias ou até mesmo que evocam a nostalgia; e a política então, nem se fala, com um Congresso Nacional como o Brasil tem, não há país que vá pra frente, essa turma consegue boicotar qualquer presidente; e assim, na dinâmica da sociedade brasileira tudo se move no mesmo lugar, como um carro que ronca o motor mas não consegue sair do atoleiro.

O dia em que a terra parou, tempo esquisito e misteriosamente parece que chegou.

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

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