Opinião

O coração dilacerado do imperador

(*) Fernando Benedito Jr.

É de um extremo mal gosto e um tanto bizarro este ato de ficar exibindo o coração do imperador Dom Pedro I por aí. Fica ainda mais estranho num país onde o Infarto Agudo do Miocárdio é a maior causa de mortes. Estima-se que, no Brasil, ocorram de 300 mil a 400 mil casos anuais de infarto e que a cada 5 a 7 casos, ocorra um óbito. Talvez fosse mais interessante e proveitoso se os recursos gastos com o translado e exposição do órgão fossem investidos em campanha de informação sobre os riscos do infarto e como preveni-lo. Mas vá lá, em se tratando de um necro governo, que pouco se importa com a vida (haja vista as mais de 680 mil mortes por covid), não é de se estranhar que façam pose rindo diante do órgão, separado dos demais despojos de Vossa Alteza.

Às vésperas do 7 de setembro golpista é de se perguntar o que Dom Pedro I acharia de tamanha bizarrice. O ditado diz que coração dos outros é terra que ninguém pisa, mas não bastasse arrancarem o coração do imperador, por aqui não só pisam como sapateiam em cima numa dança tenebrosa e macabra.

É, sem dúvida, uma cerimônia cruel. E, principalmente, estúpida.

Nem depois de morto deixam o coração real descansar em paz. A julgar pela alegria estampada nas fotos, só faltam canalibalizá-lo num banquete palaciano.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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