Cidades

Novas técnicas garantem assistência de qualidade

Com soluções de baixo custo e fácil implantação, a equipe do médico Marcus Vinícius Alvim aumenta a sobrevida de crianças e bebês recém-nascidos na UTI

IPATINGA – No Hospital Márcio Cunha, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e Pediátrica mostra que é possível conquistar esse objetivo com a adoção de práticas simples, tornando-se modelo de gestão e de qualidade na assistência.
Pelas mãos de uma equipe multiprofissional, passam todos os anos cerca de 350 bebês prematuros e crianças com necessidades de cuidados especiais e urgentes. “O nosso objetivo não é simplesmente salvar vidas, mas salvar vidas com qualidade para integrar a criança à sua família em boas condições de convívio na sociedade”, explica o pediatra e especialista em UTI, Marcus Vinícius Alvim de Oliveira. Para isso, a evolução dos trabalhos medida nos últimos oito anos não se baseia na compra de novos equipamentos ou na aquisição de tecnologias de alto custo, e, sim, na mudança de atitude e de estratégia da equipe.
A técnica chamada manobra de resgate, criada por um brasileiro, por exemplo, foi trazida para o hospital depois da participação do médico em um congresso. A ação consiste apenas em mudar os parâmetros do ventilador em pacientes que utilizam esse suporte na respiração e monitorar suas condições. Com esse simples gesto, o número de óbitos de crianças em estado grave caiu de 48 para 20 na UTI Pediátrica, e de quase 50 para menos de 10 em recém-nascidos na UTI Neonatal. A mudança da técnica utilizada na assistência de pacientes com dengue, também trazida de outra instituição e adaptada no HMC, foi implantada em paralelo a um amplo trabalho educativo para conhecimento dos estágios da doença. São ações que possibilitaram antecipar o tratamento em diversos casos e reduzir o número de mortes. Desde 2008, apenas um caso de morte por dengue foi registrado na UTI Neonatal e Pediátrica.
Outra inovação simples foi a atuação da equipe sobre a hipertensão pulmonar persistente no recém-nascido, uma patologia grave em bebês a termo (nascidos com 40 semanas de gestação) e que atrapalha a chegada de sangue no pulmão. Até 2008, todas as crianças portadoras da doença foram a óbito. Com o custo elevado do óxido nítrico, substância mais utilizada no mercado para tratar esses casos, os profissionais envolveram o setor de Farmácia do Hospital Márcio Cunha na pesquisa de um produto com a mesma eficácia e maior efetividade, por conta do valor. O resultado é a utilização do sildenafil (medicamento vasodilatador), que de lá para cá, possibilitou um aumento de 75% da sobrevida, salvando a maioria dos pacientes nesse caso. “Temos que achar soluções de baixo custo e fácil implantação. Nossos recursos são limitados, por isso atuamos dentro da nossa realidade”, resume Marcus Vinícius.

RESULTADOS
A partir de participações em congressos e simpósios, busca por novos conhecimentos praticados em outras instituições de referência e na literatura médica e da capacitação e treinamento dos profissionais, a UTI Neonatal e Pediátrica do Hospital Márcio Cunha alcançou índices considerados de países de primeiro mundo. A taxa de mortalidade em bebês prematuros de 500g a 1kg, por exemplo, baixou de 30 para 14 nos últimos dois anos.
Há um grande esforço da equipe que, muitas vezes, antecipa ações para solucionar problemas fora da UTI, mas que contribuem com o resultado final, como no Centro Obstétrico, por exemplo. A aplicação de corticóide materno em gestantes de 24 a 48 horas antes do parto, nos casos de prematuro (24 a 34 semanas de gestação) foi uma importante medida para se evitar outra doença, a enterocolite necrotizante aguda. O corticóide materno contribui para amadurecer os pulmões e os vasos do cérebro, além de reduzir infecções no intestino do bebê. Aliada à melhoria das técnicas assistenciais como manipulação mínima, melhora da assistência perinatal, uso criterioso de cateter umbilical, diagnóstico e tratamento precoce do PCA (Persistência do Canal Arterial) e o início precoce do leito materno, há dois anos e meio não há registros de caso de enterocolite necrotizante aguda no setor. Nesse mesmo período, também não se registra nenhum caso de retinoplastia da prematuridade, doença que causa cegueira em recém-nascidos.
“A gravidade do prematuro que nasce no Centro Obstétrico e vem para a UTI diminuiu, pois as condições de nascimento do prematuro melhoraram”, reforça o médico. Em 2011, no Hospital Márcio Cunha, 92% dos prematuros que nasceram entre 1kg e 1,5kg e 81% dos prematuros que nasceram entre 500g e 1kg sobreviveram. Se avaliarmos ainda com base em índices internacionais, referência para o cálculo da expectativa de morte do paciente de acordo com a gravidade do problema, o número de pacientes com possibilidade de tratamento passou de 6,12% para 4%, demonstrando uma qualidade na assistência em nível internacional. A taxa de infecção hospitalar da UTI Neonatal Pediátrica está em 13,4 por 1.000 pacientes dia, menor que a taxa dos Estados Unidos, por exemplo, que é de 14,1. Isso influencia na diminuição do número de internações e de complicações, minimizando o retorno desses pacientes ao hospital após a alta.
A efetividade do setor permitiu reduzir o custo de cada paciente/dia, sem precisar reduzir a taxa de ocupação (relação entre o número de pacientes e o número de leitos), em torno de 83%. Nos últimos quatro anos, o custo do setor com materiais, medicamentos, exames complementares e nutrição baixou 7%, resultando numa economia de aproximadamente R$ 270 mil.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com