Cidades

Na cidade, o medo impera

Local onde ocorreu a chacina de Belo Oriente: homens fortemente armados invadiram a casa e dispararam contra todos

BELO ORIENTE – Na rua Nossa Senhora do Carmo, bairro Santa Terezinha, onde ocorreu o crime, o silêncio tomou conta dos vizinhos. O caso não é comentado pelos moradores e, quando questionados sobre o que ocorreu no dia 14 de janeiro de 2006, a resposta é sempre a mesma: “Ninguém sabe, ninguém viu”.
Uma senhora que mora próximo à casa onde aconteceu a tragédia foi abordada pela equipe do Comitê Rodrigo Neto e prontamente conversou com os repórteres. Quando o assunto da chacina foi colocado em discussão, ela se esquivou e foi embora.

“Sobre isso eu não falo. Converso qualquer assunto com vocês, mas sobre a morte dessa família eu não vou falar nada. Primeiro porque eu não sei e segundo que isso já faz muito tempo, não tem por que ficar lembrando”, declarou.
Um vizinho da casa onde ocorreu a chacina disse que no dia ele não saiu na rua em nenhum momento, tudo por medo dos executores voltarem ao local. “Minha sobrinha namorava um dos jovens que foi morto na casa. Ela gritava para eu ajudar o garoto na hora dos disparos, mas eu tranquei a casa toda e não saí em nenhum momento e nem deixei ela ir para fora”, conta.

Ainda apreensivo para falar sobre o tema, o vizinho declarou que esse episódio tem que ser esquecido por todos. “Aqui ninguém comenta sobre esse crime, pois acreditamos que foi uma execução envolvendo muita gente importante. Ainda essa semana uma repórter foi morto em Ipatinga porque ele investigava esse inquérito. Acho melhor vocês desistirem disso”, aconselhou.

A dona da casa onde aconteceu a tragédia, na época alugava o imóvel para Terezinha Caetana Batista Gomes, de 46 anos, uma das vítimas da chacina. Passados sete anos, a aposentada ainda não gosta de comentar sobre o crime.
No momento em que os repórteres do Comitê Rodrigo Neto conversavam com a proprietária do imóvel, que pediu para não ser identificada por medo de represálias, um de seus filhos adentrou na residência e com tom de agressividade orientou a mãe a não falar sobre o caso. “Mãe, a senhora não pode ficar conversando demais sobre esse assunto. Você viu o que aconteceu lá em Ipatinga com o repórter que estava investigando o caso e acabou morrendo. A senhora quer trazer esse problema para sua vida?”, gritou o filho.

A chacina de Belo Oriente até hoje amedronta os moradores do local. Após orientar a mãe a não dar depoimento sobre a tragédia, o jovem se exaltou com a presença dos repórteres em sua casa e pediu para não mais ser incomodado com esse assunto. “Minha mãe vive sozinha aqui nesta casa, daí vêm vocês querendo fazer matéria com ela sobre esses assuntos que não nos dizem respeito. Espero que a presença de vocês (repórteres) não venha trazer perseguição para minha família”, disse. A Record de Belo Horizonte, que também realizava reportagem para exibir no programa Domingo Espetacular, também ouviu os desabafos.

Mesmo apreensiva, a aposentada deixou que a equipe da reportagem entrasse na sua casa, local onde foi a chacina, e mostrou que mesmo depois de reformar o imóvel, ainda existem sinais da brutalidade, como marcas dos disparos. “Não sei de nada sobre esse assunto, pois no dia eu estava em Ipatinga na casa da minha filha e esse imóvel é meu, mas era alugado na época pela família que foi morta. A única coisa que posso mostrar são as marcas de tiro no chão que ainda existem”, relata.


Crime estampou os principais jornais da região: capa do Jornal Vale do Aço, de 15/01/2006

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