Cidades

Movimento operário da região será documentado

O Centro de Memórias promete resgatar histórias com o emblemático “Massacre de Ipatinga”, ocorrido em 1963

 

IPATINGA – O Vale do Aço vai ganhar em breve um Centro de Documentação e Memória Operária e Popular (CEDOC), que pretende reunir documentos e promover diversas iniciativas para resgatar a história de lutas como a que ficou conhecida como “Massacre de Ipatinga”, ocorrida em 1963, e considerada uma mais emblemáticas do Estado. Entre essas iniciativas, está previsto o lançamento de um livro, uma revista e um documentário.
O projeto do CEDOC será apresentado oficialmente no próximo dia 21, às 16h, na sede da Associação dos Trabalhadores Anistiados de Minas Gerais (ATAMIG), à avenida 28 de Abril, nº 248, sala 301, no centro de Ipatinga. No mesmo local será implantado o Centro de Documentação, um dos objetivos principais do grupo de ex-metalúrgicos da Usiminas – demitidos na década de 80 – que conseguiu na Justiça o reconhecimento como “anistiados”.
No evento, a ATAMIG vai apresentar o projeto do CEDOC, desenvolvido em parceria com o Instituto Pauline Reischstful (IPR), de Belo Horizonte, e falar sobre o trabalho de levantamento de dados e documentos para montagem do acervo e edição de um livro com informações e depoimentos históricos de um dos períodos mais conturbados da história de Ipatinga, que vai de 1963 à década de 1980.
A solenidade de lançamento do projeto, batizado de “Marcas da Memória”, terá a participação de vários trabalhadores anistiados e de lideranças sindicais. Será exibido ainda um documentário sobre o “Massacre de 1963”. O projeto da ATAMIG será financiado pelo Ministério da Justiça, que vai liberar R$ 248 mil.

ANISTIA
Fundada em 13 de novembro de 2009, a ATAMIG reúne ex-trabalhadores da Usiminas e de outras empresas que sofreram algum tipo de perseguição política. No caso da ATAMIG, a maior parte dos integrantes é de ex-funcionários da siderúrgica demitidos nos anos 1980 por participarem de chapas de oposição no Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa) e que, mais de duas décadas depois, foram reconhecidos como vítimas de perseguição e anistiados pelo Ministério da Justiça.
Além da reparação econômica, proporcional ao tempo em que ficaram sem poder trabalhar por causa da militância político-sindical, os fundadores da ATAMIG consideram que “resgatar a memória de todos que foram vítimas de perseguição é fundamental para se conhecer a verdade”, daí a proposta de se fazer um livro, com tiragem de 2.000 exemplares, uma edição especial da revista “Liberto”, do Instituto Pauline Reischstful dedicada ao tema e um documentário.

‘Massacre’ de 1963 é o ponto de partida
Ipatinga
– O projeto aprovado pela ATAMIG junto ao Ministério da Justiça considera o “Massacre de Ipatinga”, ocorrido em outubro de 1963, “uma prévia do golpe militar no Brasil”, que aconteceu no dia 1º de abril de 1964. Informações oficiais dão conta de oito mortos no conflito entre os operários da Usiminas e o Exército, mas depoimentos e documentos reunidos pela entidade apontam para um número bem maior – há relatos de até 30 mortes.
Essa é apenas uma das questões abordadas no projeto que será lançado oficialmente no próximo dia 21, às 16h, na sede da ATAMIG, no centro de Ipatinga (avenida 28 de Abril, 248, sala 301). “As ações persecutórias frente ao operariado perduraram e avançaram para além da ditadura militar, gerando desdobramentos significativos para o processo político da região e o processo de democratização do Brasil”, justificam os autores do projeto.

Centro espera reunir 25 mil documentos
Ipatinga
– “A metralhadora abria fogo. Mais de 15 minutos de rajadas e dezenas de corpos lançados no ar e caindo ao chão, estremecendo. Os policiais fugiram com medo de serem linchados, abrindo fogo no meio da multidão e fazendo novas vítimas. Houve mais de 30 mortos e 3 mil feridos.”
Narrativas com essa, sobre o confronto entre operários da Usiminas e o Exército em 1963, que ficou conhecido como “Massacre de Ipatinga” – atribuída a Heitor Reis e publicada em 2006 pelo jornal “A Verdade” (edição nº 44) – são o ponto de partida para o exaustivo trabalho de resgate da memória operária e popular que a Associação de Trabalhadores Anistiados de Minas Gerais (ATAMIG) se propõe a fazer e colocar à disposição da população por meio do Centro de Documentação (CEDOC) que será criado com apoio do Ministério da Justiça, por meio da Comissão de Anistia.
A primeira etapa do trabalho de resgate dessa “memória” vai abranger o período entre o chamado “Massacre de Ipatinga”, em 1963, e meados da década de 1980, quando, pela primeira vez na história, um grupo de operários se organizou para disputar a eleição do Sindipa. A chapa de oposição perdeu, e todos os seus integrantes foram demitidos, e mais de duas décadas mais tarde, anistiados pelo Ministério da Justiça.

Acervo
A Associação dos Trabalhadores Anistiados já conseguiu levantar milhares de documentos e imagens relacionadas à história dos movimentos operário e popular no Vale do Aço. Agora, a entidade ipatinguense pretende realizar trabalhos de campos, com o suporte de profissionais de várias áreas, para identificar e entrevistar fontes, como ex-metalúrgicos e familiares.
A expectativa da ATAMIG é que, até o final do ano, sejam recolhidos no mínimo mais 5 mil documentos. O acervo total a ser organizado por meio do convênio com o Ministério da Justiça deverá chegar a 25 mil documentos, conforme a estimativa inicial. Esse material servirá de base ainda para a elaboração de um livro, edição de uma revista especial e depois, um documentário.

Controle
Grande parte dos documentos já reunidos sobre as lutas operárias e populares do Vale do Aço foi obtida pela ATAMIG junto ao Arquivo Público Nacional, no Rio de Janeiro. Os documentos, conforme a entidade, “retratam o controle político exercido sob a vida do operariado” e foram fundamentais para que vários ex-metalúrgicos tivessem direito, já no final do governo Lula, a uma indenização como anistiados políticos.
Em outra etapa desse trabalho, todos os documentos e imagens serão digitalizados. O projeto prevê ainda a elaboração de um catálogo descritivo de todo o acervo reunido e a criação de um website para disponibilizar todo o material à consulta pública, “com acesso livre e irrestrito à memória operária e popular do Vale do Aço”, conforme o projeto aprovado pelo governo federal.

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