Policia

Morte de missionária ainda sem resposta

Última matéria assinada por Rodrigo Neto no DIÁRIO POPULAR em março de 2011; processo hoje tramita na comarca de Caratinga

Um corpo encontrado às margens da Lagoa Silvana no início do ano de 2007 traz consigo até hoje sombras de dúvida e marcas de violência. O cadáver foi identificado como sendo da missionária Anelise Teixeira Monteiro, na época com 38 anos, e o crime não resultou em punição para os responsáveis mais de seis anos depois.

No dia 17 de janeiro de 2007, uma quarta-feira, pescadores encontraram um corpo do sexo feminino boiando às margens da Lagoa, que fica no distrito de Cordeiro de Minas, município de Caratinga, e acionaram o socorro. Foi constatado que a mulher havia sido assassinada por estrangulamento. Havia também sinais de facadas e cortes em seu pescoço e abdômen, segundo a perícia, uma tentativa de fazer com que o corpo afundasse e não pudesse ser localizado. As vísceras da mulher também foram expostas.

O cadáver permaneceu sem identificação no Instituto Médico Legal (IML) de Ipatinga durante uma semana. Preocupados com o desaparecimento da missionária e informados sobre um corpo desconhecido no IML, familiares e amigos de Anelise se dirigiram ao IML e reconheceram o corpo da missionária.

Anelise pertencia à Igreja Evangélica Fogo Para as Nações e viajava em missões pela congregação. Na ocasião de sua morte, Anelise saiu da cidade de Teixeira em direção a Ipatinga, onde morava, e pegaria um voo para São Paulo. No entanto, não deu mais notícias, sendo identificada por três de seus irmãos.

Ela foi enterrada no dia 25 de janeiro do mesmo ano no Cemitério Parque Senhora da Paz, em Ipatinga. Anelise era casada e deixou duas filhas, que na época tinham 12 e 15 anos de idade.
Três anos antes de ser morta, a missionária e seu marido haviam sofrido um atentado a tiros. O marido de Anelise foi alvejado por quatro disparos, mas conseguiu se salvar. Durante as apurações da Polícia Civil, foi traçada uma linha de investigação envolvendo os dois crimes.

ENVOLVIMENTO POLICIAL

Em junho de 2007, o JORNAL VALE DO AÇO informou que a investigação da morte da missionária havia tido avanços. A delegada Adeliana Xavier Santos, responsável pelo inquérito, relatou que havia dois suspeitos de terem cometido o homicídio, entre eles um cabo da Polícia Militar. O cabo, lotado no 14° Batalhão da PM, em Ipatinga, foi indiciado por Adeliana por envolvimento na morte de Anelise. Em 2009, o Ministério Publicou, acatando o inquérito da Polícia Civil, denunciou o militar à Justiça.

As investigações feitas pela PC chegaram até o cabo da PM por meio do motorista Daniel Silva Araújo. Uma testemunha teria visto a missionária pela última vez entrando no carro que seria de Daniel. Em depoimento, o motorista confirmou que conhecia Anelise e que ficou sabendo da morte da mulher por meio do militar, que o procurou e relatou o acontecido ainda no dia 17 de janeiro, data em que o corpo da missionária foi encontrado na lagoa Silvana sem qualquer identificação. Para a PC, só quem tinha contato com os autores ou o próprio autor do crime é que poderia saber de tal fato.

Em 2007, Daniel foi preso no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de Ipatinga, após tentar contra a vida de Márcio Vital Ferreira. O crime foi motivado por dívidas pessoais e, aparentemente, não possui ligação com o caso da missionária Anelise. Daniel então tornou-se a principal testemunha do crime.
Em 9 de abril de 2010, Daniel Silva Araújo, então com 48 anos, foi assassinado com oito tiros na zona rural de Ipatinga. Ele estava em um bar no distrito de Pedra Branca de costas para a rua, quando foi surpreendido pelo assassino, que usava um capacete de viseira escura na cabeça e fugiu em uma motocicleta Honda Titan cor prata. O caso até hoje não possui uma elucidação.

Primeira edição do DIÁRIO POPULAR trouxe como manchete o caso da missionária assassinada, em reportagem de Rodrigo Neto

RODRIGO NETO

O jornalista e radialista Rodrigo Neto, executado a tiros no último dia 8 de março, se envolveu diretamente neste caso com reportagens que sempre cobravam a solução para este crime. A primeira edição do DIÁRIO POPULAR, de junho de 2007, trouxe como manchete uma matéria feita por Rodrigo sobre o caso. Em agosto de 2008, o quadro “O que o tempo não apagou”, apresentado por ele na Rádio Vanguarda, relembrou a história trazendo uma entrevista com um amigo da missionária que esteve no IML, na ocasião da identificação do corpo de Anelise.

“Eu até ouvi a reportagem sobre esse corpo. A princípio não desconfiei de nada. O José Carlos, que é marido dela, me ligou, já tava em fase de desespero já, falando comigo que aquele corpo podia ser da mulher dele devido às características de cicatrizes no abdômen, e parece que não sei, ela tinha feito uma cirurgia agora há pouco tempo de… cirurgia plástica, né? Então ele me ligou desesperado, aí eu na hora desloquei pra casa dele e nem quis trazê-lo não. Aí veio eu, o irmão da Anelise, o Marcos (Marquinhos), e a gente viu as fotos e eu não tive dúvida. Na hora que vi a foto, tive certeza 100% que era ela”, relatou.

A última matéria feita sobre o caso pelo jornalista Rodrigo Neto no DIÁRIO POPULAR foi em março de 2011. Na ocasião, foi noticiado que o policial indiciado pela morte de Anelise já havia sido denunciado à justiça e aguardava uma data para o julgamento.

O processo, iniciado na comarca de Ipatinga, foi transferido em 2011 para Judiciário de Caratinga, em razão da localidade onde o corpo foi encontrado. O cabo da PM responde por homicídio simples, cuja pena varia entre seis a 20 anos de reclusão.

Foi marcada para julho do ano que vem uma audiência de instrução e julgamento, que tem por objetivo fazer com que as partes possam produzir no processo. O julgamento do militar, que continua exercendo atividades pela PM, ainda não possui data para acontecer.

(*Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso – Comitê Rodrigo Neto)

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No dia 17 de janeiro de 2007, uma quarta-feira, pescadores encontraram um corpo do sexo feminino boiando às margens da Lagoa, que fica no distrito de Cordeiro de Minas, município de Caratinga, e acionaram o socorro. Foi constatado que a mulher havia sido assassinada por estrangulamento. Havia também sinais de facadas e cortes em seu pescoço e abdômen, segundo a perícia, uma tentativa de fazer com que o corpo afundasse e não pudesse ser localizado. As vísceras da mulher também foram expostas.

O cadáver permaneceu sem identificação no Instituto Médico Legal (IML) de Ipatinga durante uma semana. Preocupados com o desaparecimento da missionária e informados sobre um corpo desconhecido no IML, familiares e amigos de Anelise se dirigiram ao IML e reconheceram o corpo da missionária.

Anelise pertencia à Igreja Evangélica Fogo Para as Nações e viajava em missões pela congregação. Na ocasião de sua morte, Anelise saiu da cidade de Teixeira em direção a Ipatinga, onde morava, e pegaria um voo para São Paulo. No entanto, não deu mais notícias, sendo identificada por três de seus irmãos.

Ela foi enterrada no dia 25 de janeiro do mesmo ano no Cemitério Parque Senhora da Paz, em Ipatinga. Anelise era casada e deixou duas filhas, que na época tinham 12 e 15 anos de idade.
Três anos antes de ser morta, a missionária e seu marido haviam sofrido um atentado a tiros. O marido de Anelise foi alvejado por quatro disparos, mas conseguiu se salvar. Durante as apurações da Polícia Civil, foi traçada uma linha de investigação envolvendo os dois crimes.

ENVOLVIMENTO POLICIAL

Em junho de 2007, o JORNAL VALE DO AÇO informou que a investigação da morte da missionária havia tido avanços. A delegada Adeliana Xavier Santos, responsável pelo inquérito, relatou que havia dois suspeitos de terem cometido o homicídio, entre eles um cabo da Polícia Militar. O cabo, lotado no 14° Batalhão da PM, em Ipatinga, foi indiciado por Adeliana por envolvimento na morte de Anelise. Em 2009, o Ministério Publicou, acatando o inquérito da Polícia Civil, denunciou o militar à Justiça.

As investigações feitas pela PC chegaram até o cabo da PM por meio do motorista Daniel Silva Araújo. Uma testemunha teria visto a missionária pela última vez entrando no carro que seria de Daniel. Em depoimento, o motorista confirmou que conhecia Anelise e que ficou sabendo da morte da mulher por meio do militar, que o procurou e relatou o acontecido ainda no dia 17 de janeiro, data em que o corpo da missionária foi encontrado na lagoa Silvana sem qualquer identificação. Para a PC, só quem tinha contato com os autores ou o próprio autor do crime é que poderia saber de tal fato.

Em 2007, Daniel foi preso no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de Ipatinga, após tentar contra a vida de Márcio Vital Ferreira. O crime foi motivado por dívidas pessoais e, aparentemente, não possui ligação com o caso da missionária Anelise. Daniel então tornou-se a principal testemunha do crime.
Em 9 de abril de 2010, Daniel Silva Araújo, então com 48 anos, foi assassinado com oito tiros na zona rural de Ipatinga. Ele estava em um bar no distrito de Pedra Branca de costas para a rua, quando foi surpreendido pelo assassino, que usava um capacete de viseira escura na cabeça e fugiu em uma motocicleta Honda Titan cor prata. O caso até hoje não possui uma elucidação.

Primeira edição do DIÁRIO POPULAR trouxe como manchete o caso da missionária assassinada, em reportagem de Rodrigo Neto

RODRIGO NETO

O jornalista e radialista Rodrigo Neto, executado a tiros no último dia 8 de março, se envolveu diretamente neste caso com reportagens que sempre cobravam a solução para este crime. A primeira edição do DIÁRIO POPULAR, de junho de 2007, trouxe como manchete uma matéria feita por Rodrigo sobre o caso. Em agosto de 2008, o quadro “O que o tempo não apagou”, apresentado por ele na Rádio Vanguarda, relembrou a história trazendo uma entrevista com um amigo da missionária que esteve no IML, na ocasião da identificação do corpo de Anelise.

“Eu até ouvi a reportagem sobre esse corpo. A princípio não desconfiei de nada. O José Carlos, que é marido dela, me ligou, já tava em fase de desespero já, falando comigo que aquele corpo podia ser da mulher dele devido às características de cicatrizes no abdômen, e parece que não sei, ela tinha feito uma cirurgia agora há pouco tempo de… cirurgia plástica, né? Então ele me ligou desesperado, aí eu na hora desloquei pra casa dele e nem quis trazê-lo não. Aí veio eu, o irmão da Anelise, o Marcos (Marquinhos), e a gente viu as fotos e eu não tive dúvida. Na hora que vi a foto, tive certeza 100% que era ela”, relatou.

A última matéria feita sobre o caso pelo jornalista Rodrigo Neto no DIÁRIO POPULAR foi em março de 2011. Na ocasião, foi noticiado que o policial indiciado pela morte de Anelise já havia sido denunciado à justiça e aguardava uma data para o julgamento.

O processo, iniciado na comarca de Ipatinga, foi transferido em 2011 para Judiciário de Caratinga, em razão da localidade onde o corpo foi encontrado. O cabo da PM responde por homicídio simples, cuja pena varia entre seis a 20 anos de reclusão.

Foi marcada para julho do ano que vem uma audiência de instrução e julgamento, que tem por objetivo fazer com que as partes possam produzir no processo. O julgamento do militar, que continua exercendo atividades pela PM, ainda não possui data para acontecer.

(*Matéria publicada em homenagem ao trabalho desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Neto que, enquanto atuou, cobrou incessantemente das autoridades uma solução para o caso – Comitê Rodrigo Neto)

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