Cidades

Menos médicos, mais reserva de mercado e corporativismo

(*) Fernando Benedito Jr.

Com a fuga em massa dos “escravos” cubanos que foram engordar em seu quilombola caribenho, o governo anticomunista fez um pregão no entreposto de navios negreiros para substituir a mão-de-obra, mas não conseguiu porque seu leilão foi atacado por piratas sabotadores que impediram o registro dos novos contratados.

Essa é mais ou menos a explicação do Ministério da Saúde e do governo de transição para explicar porque das 8.517 vagas para atuação em 2.824 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), foram registradas 6.394 inscrições, das quais apenas 2.812 candidatos deram início ao processo, mas ainda precisam escolher o município de atuação –

a maioria já avisou que quer ficar nas capitais ou grandes cidades. Segundo o Ministério, apesar dos alertas do Conselho Federal de Medicina de que o prazo era curto, o baixo número é resultado de um ataque de hakers.

Ressalta-se que dos 6.394 inscritos só 2.812 preencheram os requisitos para exercer a medicina, entre as quais o CRM. A mesma coisa aconteceu nos processos anteriores. Depois de vários processos seletivos, o “governo comunista do PT” resolveu chamar os comunistas cubanos porque ninguém quis ir para o Brasil profundo. Preferiram ficar nos aeroportos cuspindo na cara dos “escravos” que chegavam, demonstrando a bela educação que recebem nas ótimas faculdades de medicina do Brasil.

Esta mesma educação, aliás, é aquela que muitos médicos brasileiros –

se não a maioria, uma grande parcela deles –, demonstra depois nos hospitais, nas unidades de saúde, nas UPAs, pronto-socorros e nas clínicas quando vão receber os doentes da Pátria. Diga-se de passagem estes mesmos pobres brasileiros que votaram nos candidatos da Frente Parlamentar de Medicina, aliada do governo fascista eleito.

Estes “doutores” são aqueles que defendem a Medicina cada vez mais hermeticamente fechada para os pequenos grupos de endinheirados e para os grandes conglomerados farmacêuticos e hospitalares. O saber inviolável da medicina deve pertencer somente aos que tem dinheiro para pagar as caríssimas faculdades nacionais e se perpetuar de pai para filho. Daí, a moratória para novos cursos; a proibição do acesso à medicina e a ampliação do conhecimento médico para evitar a “banalização” da profissão.

Reserva de mercado e corporativismo são os nomes que se escondem sob o argumento de ensino de qualidade, competência, mérito, etc, sob temor do aviltamento dos ganhos. Como se a ciência tivesse dono e lucro fosse seu mantra único.

No passado, era assim também no Direito, até que a sociedade começou a exigir mais advogados, os serviços no setor se ampliaram e o mercado cresceu. Junto com ele os escritórios, as bancas, os concursos públicos, enfim, a oferta de trabalho. Existem bons advogados, médios, ruins, ótimos e o mercado os seleciona. Uns se tornam promotores, juízes, procuradores, outros atuam em grandes bancas, outros ficam relegados às ações de “porta de cadeia”, como dizem. É assim, a vida.

Mas os “doutores” não querem correr este risco. Querem o mercado só para si. Concursos só para si tão logo se formem. E por isso tentam fechá-lo, tentam eleger médicos que vão defender a moratória eterna de novas faculdades de medicina, restringir a entrada de médicos estrangeiros, impor Revalida cada vez mais rigoroso, talvez até definir cor da pele, religião e ideologia para exercer a profissão.

Na verdade, o que está posto não é uma medicina como prática científica e humanitária para salvar vida e evitar doenças, mas uma medicina capitalista, lucrativa, que sirva para pagar os altos custos dos cursos e deixar remediado quem a pratica. Meio que uma medicina de classe.

No mais, é esperar pelas novas convocatórias do Ministério da Saúde para ver quem serão os humanistas atrevidos que substituirão os “escravos da ditadura comunista” nos 2.824 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) dos rincões do Brasil.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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