Policia

Mãe de meninas mortas diz que está com alma destruída

Aparecida contou como foi a tragédia: "Daiane ficou olhando para mim como se quisesse me dizer: “mãe, a senhora trouxe a gente para morrer"?

REVÉS DO BELÉM – O último corpo das três irmãs que morreram afogadas na tarde da última quinta-feira (2) no Rio Doce, em Revés do Belém, foi encontrado na tarde de ontem, por volta de 17h, na Ponte Perdida em Revés. O corpo de Daiane Oliveira da Silva, 14 anos, foi localizado a cerca de 5km do local onde se afogou. No último sábado, o Corpo de Bombeiros de Ipatinga já tinha resgatado os corpos das outras duas irmãs, Thaynara Oliveira Reis, de 10 anos, e Daniela Oliveira da Silva, de 12 anos. Eles foram encontrados em Cachoeira Escura, distrito de Belo Oriente, a cerca de 20 quilômetros do local onde as desapareceram. Os corpos foram velados em caixões fechados e sepultados ainda na noite de sábado. Pelo estado avançado de decomposição, o corpo de Daiane foi enterrado ainda na noite de ontem.
Nesta segunda-feira (6), a mãe das meninas, Aparecida Oliveira da Silva, recebeu a reportagem do DIÁRIO POPULAR em sua casa, em Revés do Belém. Com vazio enorme no peito, a mulher contou com detalhes como tudo ocorreu e o drama que viveu ao ver as três filhas se afogarem.

O corpo de Daiane, de 14 anos, foi encontrado no final da tarde de ontem ;
os de Thaynara, 10 anos, e Daniela Oliveira, 12 anos, foram sepultados em Revés do Belém

DIÁRIO POPULAR – Como foram momentos antes delas entrarem no rio?
APARECIDA
– A minha filha mais velha me chamou para a gente poder ir nadar. Antes de irmos, comemos arroz doce, mingau de milho verde e daí fomos. Quando chegamos lá, eu entrei no poço de água para ver se estava tudo bem. E estava. Sentei em uma duna de areia e fiquei com meus pés dentro da água.

DP – A senhora percebeu que algo poderia acontecer?
APARECIDA
– A Thaynara, a mais nova, passou por mim e pulou na água sem eu ver. Quando olhei, ela e a Daiane já estavam gritando “socorro mãe”. E a Daniele disse que ia ajudar e agarrou na Daiane, mas não teve jeito, a correnteza estava muito forte.

DP – Além das meninas, tinha outros filhos que estavam na água também. O que a senhora fez?
APARECIDA
– Eu pulei, consegui segurar nos dedos da Daiane. Foi quando eu olhei para os meus outros dois filhos e vi que a água já estava na altura do peito deles e onde eu estava também já não dava pé, porque eu afundava e voltava. Foi quando eu soltei a mão da Daiane e empurrei os outros dois pra cima, porque se eles dessem mais um passo, eu também não ia conseguir retirar os dois. Depois disso, eu peguei uma taquara para tentar salvar as meninas, mas, ela se quebrou.

DP – Qual a última visão que a senhora teve das filhas?
APARECIDA
– A Thaynara afundou com os pezinhos para cima, a Daniele de costas. Já a Daiane ficou olhando pra mim e balançando a cabeça, como se quisesse me dizer: “mãe, a senhora trouxe a gente para morrer”? Eu sei que ela olhava pra mim com um olhar tão triste e não vi mais minhas filhas.

DP – Você tinha costume de levar os filhos lá?
APARECIDA
– Essa era a sétima vez. Só que as outras vezes o rio não estava cheio. Parecia um lugar seguro. Vai muita gente lá e eu achei que não tinha perigo.

DP – Por pouco você não perde os cinco filhos?
APARECIDA
– Era para os meus cinco filhos estarem mortos sem sombra de dúvida. Se eu não tivesse empurrado o Cauã e a Tauane para fora, não teria mesmo como ter ninguém vivo.

DP – O que a senhora sente neste momento?
APARECIDA
– Estou com minha alma destruída. Não tem explicação. Era melhor eu não ter levado as minhas filhas lá e ver elas tristes com um “não”, a sair para passear e não voltar. Eu não tive nem o direito de ver o rosto das minhas duas filhas no caixão.

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