Cidades

Liminar suspende reintegração de posse de áreas da Prefeitura

Os policiais militares fecharam as vias de acesso ao terreno durante a desocupação   (Foto: InterTV dos Vales)

 

TIMÓTEO – A desocupação de áreas anunciada para acontecer na manhã de ontem (3) acabou não sendo feita na sua totalidade. Apenas 30 famílias que estavam em uma área particular, situada na rua Macaranduba, bairro Recanto Verde, foram efetivamente removidas.
Isso graças a uma decisão do desembargador Marcelo Rodrigues, do Tribunal de Justiça, que suspendeu os efeitos da liminar concedida pelo juiz de primeira instância Rodrigo Antunes. A primeira decisão determinava a reintegração de áreas pertencentes à Prefeitura de Timóteo.
A intenção inicial era dar apoio aos oficiais de justiça que cumpririam os mandados de reintegração de posse em seis terrenos localizados nos bairros Macuco, Recanto Verde e Limoeiro. A Polícia Militar já havia se preparado para dar cumprimento à ordem judicial do magistrado da comarca de Timóteo.
Cerca de 200 militares foram escalados para dar cobertura à operação, que contou ainda com a participação seis unidades do Corpo de Bombeiros e três ambulâncias. Militares de Belo Horizonte e um helicóptero também foram requisitados.
No momento da desocupação, apenas os representantes da Justiça, moradores e policiais tiveram acesso ao local. Como os desalojados não ofereceram resistência ao cumprimento da ordem judicial, a PM não precisou usar métodos repressivos.
Bruno Cardoso, conselheiro estadual de Direitos Humanos, acompanhou todo o processo para garantir que as famílias removidas tenham acesso à moradia.

PROTESTO
Na noite de quarta-feira (2), as famílias que ocupavam as áreas invadidas fizeram um protesto na avenida dos Rodoviários, via pública que dá acesso aos bairros Limoeiro, Recanto Verde, Alphavile e Macuco.
Os manifestantes atearam fogo em pneus colocados estrategicamente no meio da via pública. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram acionados para conter os ânimos.
O comandante da Polícia Militar em Timóteo, capitão Sérgio Renato, pediu reforço no policiamento. E a manifestação terminou de forma pacífica.

REUNIÃO
O vice-prefeito de Timóteo, Marcelo Afonso, recebeu no final da tarde dessa quinta-feira, uma comissão formada por três pessoas, sendo uma representante do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, uma representante da Pastoral da Comunicação da Diocese de Itabira/Cel.Fabriciano e uma representante do movimento, que ocuparam áreas públicas na Regional Leste.
O objetivo da comissão, encabeçada pelo conselheiro Bruno Cardoso, era pedir, em nome dos ocupantes, que a prefeitura interceda junto à justiça e à Polícia Militar para que não haja desocupação. O representante do Conselho Estadual dos Direitos Humanos sugeriu ainda que a administração retomasse as negociações com os ocupantes.
Durante a reunião no gabinete do prefeito Sérgio Mendes, Marcelo Afonso fez alguns esclarecimentos para o conselheiro, com o objetivo de orientar o trabalho dele, que ainda não conhece a realidade da ocupação, por ter chegado a Timóteo apenas hoje. “Respeitamos o trabalho de vocês, porém não faremos acordos na desordem. Aceitamos a proposta de abrir uma negociação com o movimento, desde que desocupem as áreas invadidas”, propôs Afonso, afirmando que “por detrás deste movimento estão infiltrados interesses político partidários, agora, com a participação de deputados e movimentos organizados com relevantes interesses eleitorais. Não somos adeptos à desordem pública, pois respeitamos o estado democrático de direito, cujo princípio básico é a lei”, ponderou o vice-prefeito.
Marcelo Afonso lembrou ainda que a polícia foi requisitada pela justiça, para dar segurança ao cumprimento da ordem judicial pelos oficiais de justiça.

Famílias cobram alojamento
Timóteo
– Sem ter para onde ir, as trinta famílias retiradas do assentamento do bairro Recanto Verde foram levadas para a quadra coberta da Escola Municipal do Limoeiro.
A dona-de-casa Bruna Flávia da Silva, 28 anos, não sabe para onde ir com os filhos. Ela está desempregada e por isso não tem condições de pagar aluguel. “Resolvi invadir porque sabia que a área era da Prefeitura. Estou cansada e com fome. Nos pediram para aguardar aqui por três dias. É o jeito, não temos para onde ir. Vamos colocar essa situação na mão de Deus e do prefeito. Se ele prometeu alojamento vai ter que dar”, falou.
Alice Maria do Carmo, de 22 anos, está no mesmo dilema. Ela foi com os filhos para a invasão há dois meses. “Mais uma vez ficamos sem teto e a sensação é a pior possível, continuo sem lugar para morar. Falaram que iam nos tirar de lá e nos trazer para a quadra da escola do Limoeiro para fazer um cadastro e logo em seguida iríamos para um alojamento. Já são três horas da tarde (quinta-feira) e até agora não veio o almoço e nem mesmo água”, reclamou. Os móveis e utensílios das famílias removidas foram levados para outra quadra no bairro Alphaville.
“Deixei os meus móveis na casa da minha mãe, mas muitos aqui não têm nem parente por perto, levaram para uma quadra e deixaram ao relento. Não tenho dinheiro para pagar um aluguel e vou esperar a Prefeitura me ajudar. Prometeu tem que cumprir. Ou então a gente invade outra área novamente sem nenhum problema. A gente quer terra, não queremos briga”, defendeu.

Terra de Todos
O pedreiro David Elias Soares, de 28 anos, decidiu participar da ocupação porque precisava de um lugar para morar com os filhos.
“Eles não querem nos deixar ficar na área, agora se virem e arrumem um novo teto. A terra é de ninguém. Deus largou a terra para nós, todo mundo, não a vendeu para ninguém”, disse.
Ele também reclamou de a Prefeitura não ter levado para outro lugar os pertences das famílias. “Falaram que nossas coisas, colchão, roupa de cama, e móveis iam ficar com a gente, mas levaram tudo para o Alphavile”, reclamou.

‘Minha Casa, Minha Morte’
A manicure Claudia Rodrigues, de 25 anos, disse não acreditar no programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida. “Minha intenção era conseguir uma casa pelo programa Minha Casa Minha Vida. Mas para nós é minha casa, minha morte. Você morre e a casa nunca vem. Disseram que a renda para comprar uma casa tem que ser três salários mínimos. Que pobre tem esse tanto de dinheiro dentro de uma casa? Que pobre tem condições de tirar R$ 300 do salário para pagar uma prestação?”, questionou.



Alice Maria: “Prometeu alojamento, vai ter que dar,
ou então a gente invade outra área novamente
sem nenhum problema”, disse
 
(Foto: Nadieli Sathler)


David Elias disse ser errado grandes porções
de terra pertencerem a apenas uma pessoa
 
(Foto: Nadieli Sathler)

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