Cultura

Intervenção urbana promove reflexão curiosa sobre patrimônios municipais

Alunos abrem discussão sobre a inexistência dos principais pontos históricos de Ipatinga em uma ilusão de imagem e moradores reagem com sensação de perda

 

IPATINGA – “Um vazio grande e uma sensação de perda”. Esta foi a percepção de Bruna Borges, moradora do bairro Veneza ao passar pela Estação Pouso de Água Limpa, no Novo Centro, e ver em um monóculo gigante a ausência do patrimônio histórico. Elaine de Araújo também não gostou nada do que viu. “Embora eu não passe sempre por aqui, é muito estranho ver uma imagem dessas. Percebe-se que falta alguma coisa”, comenta.

Na tarde desta sexta-feira (9), um grupo de estudantes do 10º período de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Pitágoras realizou uma intervenção urbana em vários pontos históricos de Ipatinga, que consistiu na remoção dos patrimônios tombados por meio de uma imagem projetada em um monóculo. O objetivo do trabalho, que teve o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, é ampliar um diálogo sobre a Educação Patrimonial.

Bruna Borges, moradora do bairro Veneza, estranhou a paisagem ao contemplá-la sem a Estação Pouso de Água Limpa

MONÓCULO

Os alunos usaram um monóculo de 40 centímetros (lente de aumento) confeccionado em MDF, montado em um tripé. No equipamento foram colocadas fotografias de alguns espaços públicos, porém sem os bens históricos. Por meio de um programa de edição de imagem, a Estação Memória e o Pontilhão de Ferro, que dá acesso ao bairro Veneza, deixaram de existir. Imagem que chocou quem está acostumado a passar pelos locais. “Nunca imaginei a rua Belo Horizonte sem o pontilhão, muito menos sem a Estação Memória”, disse o aposentado Laurindo Vieira, de 76 anos. “Todos os dias passo pelo pontilhão e fico sentado em frente à Estação Memória para encontrar uns amigos antigos. Muito triste pensar que este local pudesse não existir”, disse.

RESULTADO

O objetivo foi alcançado pelos cinco estudantes que idealizaram a intervenção. A ideia foi pensada em sala de aula. E antes de levar o experimento para a rua, os universitários Rafael Lisbanho, Renan Vaz, Raphael Franklin, Renan Ermelindo e Ana Clara Scherr constataram que grande parte dos moradores de Ipatinga não conhece o acervo patrimonial do município.

“Como nós fizemos um estudo prévio, observamos que realmente as pessoas passam pelas proximidades dos patrimônios, mas não os observam. Então, quisemos concretizar essa falta de observação, e notamos que as pessoas ainda se importam, no momento em que elas têm a sensação de vazio e de perda que tínhamos previsto nos nossos estudos”, considera o estudante Renan Vaz.

IDENTIDADE E MEMÓRIA

Nos três locais da intervenção proposta pelos alunos houve uma representação artística da Escola Municipal de Artes Cênicas sobre olhar “cego” diante dos patrimônios históricos. Sentada em uma cadeira, que ficou próxima aos bens históricos, a estudante de artes Samara Silva Barreto se vestiu de roupas sujas e colocou uma venda nos olhos, uma representatividade sobre o esquecimento dos bens históricos da cidade.

“Muitas vezes as pessoas passam perto, mas não visitam, não valorizam o patrimônio de sua cidade, e o bem passa a ser usado de forma incorreta, provocando até mesmo o vandalismo. A venda nos olhos representa as pessoas que são cegas e não cuidam daquilo que é seu, e as roupas fazem alusão ao abandono do patrimônio cultural pela sociedade”, explica.

PRESERVAÇÃO

O secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Carlos Oliveira, agradeceu aos alunos que criaram a intervenção urbana. “Uma manifestação que mostra para a população de Ipatinga que o patrimônio histórico é visto todos os dias, mas não é percebido. E isso nos dá uma consciência e uma obrigação muito maior de ajudar e trabalhar na preservação do patrimônio e na manutenção dele”, disse.

REVITALIZAÇÃO

A administração pública adiantou que pleiteia por meio de edital junto ao Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos, órgão ligado ao Ministério da Justiça, uma verba de R$ 658 mil a ser investida na revitalização da Estação Pouso de Água Limpa para o funcionamento da ‘Maria Fumaça’. Os recursos seriam usados na manutenção da linha férrea de 2,3 km (que passa pelo Parque Ipanema), da estação principal, vagões e o cercamento da linha.

“Embora a ‘Maria Fumaça’ esteja em plenas condições de uso, precisamos dos recursos para a revitalização de todo o complexo que vai até o Parque Ipanema. É um pedido antigo dos nossos munícipes e esta gestão tem total interesse no retorno da ‘Maria Fumaça’. Para isso, estamos buscando também parcerias com empresas privadas. Ipatinga é uma cidade de 54 anos, mas que tem vários resgates históricos do ponto de vista do patrimônio”, acrescentou o prefeito Nardyello Rocha.

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