Nacionais

Inquisição prossegue e golpistas tentam se esconder da história

O advogado de defesa José Eduardo Cardozo chorou e foi consolado por companheiros da esquerda: indignação com a injustiça   (Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

BRASÍLIA – O tribunal inquisitorial contra a presidenta eleita Dilma Rousseff prosseguiu ontem no Senado Federal, com discursos dos advogados de acusação, de defesa, dos senadores e senadoras. Os discursos à direita foram marcados pelo tom acusatório e pela tentativa dos senadores golpistas de se safarem do julgamento da história, evitando a pecha de golpistas, que verdadeiramente são. Aécio Neves, Antonio Anastasia e demais representantes da oposição à Dilma enfatizaram que o impeachment não é golpe, está previsto na Constituição e tentaram reafirmar a tese de crime de responsabilidade, conforme o relatório da comissão de Impeachment do Senado. A tese foi repetida à exaustão pelos demais defensores do “impeachment”.

Por outro lado, a bancada de esquerda, contrária ao golpe, insistiu na tese da conspiração para derrubar Dilma e fez virulentos discursos, comparando o golpe parlamentar de 2016 com o de abril de 1964. Num dos embates mais calorosos, o senador Roberto Requião, dirigindo a Aécio Neves, lembrou as palavras de Tancredo Neves, avô do senador e ex-governador de Minas, quando a presidência da República foi declarada vaga. Em abril de 1964, quando o presidente João Goulart ainda se encontrava em território nacional, o senador Moura Andrade declarou vaga a Presidência. “Canalhas, canalhas, canalhas”, disse à época o senador Tancredo Neves,indignado com o golpe. Nesta terça, Requião as repetiu para o neto de Tancredo, Aécio Neves, que as mesmas palavras, que ele ouviu atônito ao lado de Antonio Anastasia.

LÁGRIMAS

Ao deixar o plenário do Senado para o intervalo do almoço, José Eduardo Cardozo, advogado de defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff, foi às lágrimas ao conversar com jornalistas. Ele indignou-se com o discurso da advogada de acusação, Janaína Paschoal. “Nunca deixei de me emocionar diante da injustiça. Aquele que perde a emoção diante da injustiça se desumanizou”, disse.

Cardozo disse que as palavras da acusação foram “muito duras”. “Para quem conhece Dilma Rousseff, pedir sua acusação para defender seus netos é algo que me atingiu muito fortemente”, disse ao se referir à fala final da advogada Janaína Paschoal (acusação) que pediu desculpas à presidenta da República afastada por saber que a situação que ela vive não é fácil e, como uma das autoras do processo, ter causado sofrimento à petista. “Peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela”, disse Janaína.
“Achei profundamente injusta a menção aos netos. Eu não condeno alguém dizendo que vou resolver o futuro dos netos”, disse Cardozo.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com