Cidades

Igreja realiza protesto contra crimes violentos em Fabriciano

A professora aposentada Zenaide Oliveira desceu do carro e registrou a imagem em seu celular   (Foto: Gizelle Ferreira)

 

FABRICIANO – Quem passou pela cidade nos últimos dias se chocou com uma imagem: mais de quatro mil cruzes foram fixadas nos canteiros de um viaduto de Coronel Fabriciano, um dos principais cartões postais da cidade. Mas a intenção era mesmo causar impacto. O manifesto, que teve como objetivo a promoção da paz e combate à violência, foi promovido pela 1ª Igreja Presbiteriana da cidade. Além das cruzes, foram colocadas faixas com dizeres bíblicos e pedidos de paz.
De janeiro a maio deste ano, foram registrados 22 assassinatos em Coronel Fabriciano. Número maior do que todo primeiro semestre do ano passado – 20 mortes. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social mostram que o município registrou aumento no número de crimes violentos de 2010 para 2011. Ano passado, foram 215 registros contra 116 em 2010. Elevação também foi registrada nos homicídios. Foram 20 registros em 2010 e 35 em 2011.

PÚBLICO
“Achei estranho. Parece um cemitério”, esta foi a impressão do estudante Pedro Henrique Almeida, 15 anos, ao passar pelos viadutos. “O protesto poderia ter sido feito de outra forma, mas a iniciativa foi legal e acho que conseguiram chamar a atenção”, considera.
A aposentada Irene Pereira, 74 anos, fazia sua caminhada normal pela manhã de ontem, quando resolveu diminuir os passos e parar. Reparou perplexamente nos canteiros e disse: “É horrível esta imagem. Mas acho que é isso mesmo que tem que fazer. Porque Fabriciano não era violento até pouco tempo atrás e atualmente não podemos mais sair nas ruas tranquilamente. Hoje mesmo presenciei um assalto em uma relojoaria, coisa horrível”, disse.
Mas a imagem não chamou a atenção somente dos pedestres: a professora aposentada Maria Zenaide Nunes Oliveira, 62 anos, estava dirigindo quando resolveu parar e tirar uma foto do local. “Finalmente alguém despertou para a situação da cidade. Esperamos que algo seja feito. E essa foto eu vou mostrar para minhas colegas, porque já vi esse tipo de protesto em cidades como o Rio de Janeiro, e aqui é a primeira vez”, menciona.

IMPACTO
O idealizador do protesto, o reverendo Marcelo Montini, da 1ª Igreja Presbiteriana, disse que a ideia do manifesto é justamente impactar a cidade sobre os altos índices de crimes violentos que assolam o município. O pastor lamenta atual realidade do município, hoje considerado um das mais violentos do Estado. “Isso tem incomodado o coração do povo. Medo e angústia no coração de tantas pessoas que perderam entes queridos. E isso precisa causar mais perplexidade no nosso coração e mais sensibilidade do que as próprias cruzes que foram pregadas ali”, ressalta.
Marcelo Montini pondera que o protesto não foi uma crítica às instituições de segurança pública da cidade, mas sim para provocar uma reflexão na sociedade como um todo sobre o assunto violência, a fim de buscar quais são as verdadeiras razões dessa violência. “Eu não acredito que alguém puxa o gatilho de um revólver para fazer a cobrança de uma dívida de droga. O problema é muito mais complexo do que se imagina e pode estar ligado à conjuntura socioeconômica, seja dentro de uma família desestruturada, ou que sofreu a vida toda. Aí percebemos que elas são tão vítimas quanto as vítimas que elas fazem”, disse.

Pastor disse que a intenção não é criticar os órgãos de segurança pública, e sim propor uma reflexão na sociedade

 

Para Dettogne, falta de efetivo na PC colabora para crimes
Fabriciano
– O delegado titular da Delegacia de Coronel Fabriciano, Paulo César Dettogne, parabenizou a iniciativa da igreja em mostrar a indignação diante dos crimes violentos registrados com frequência na cidade. O próprio policial considera que é preciso cobrar dos governantes uma solução para os altos índices de criminalidade no município que, para ele, já passou “há muito tempo dos limites aceitáveis”. “A violência é sempre inaceitável, mesmo que fossem uma ou duas vítimas, e nós já temos mais de vinte somente este ano. Então, se ninguém se indignar seria pior”, frisa.
Para Dettogne, uma das formas de coibir a violência é aumentar o efetivo da Polícia Civil. Segundo ele, estudos técnicos sobre a necessidade já estão sendo encerrados e será repassado aos seus superiores o número de pessoal necessário para a Polícia Civil de Coronel Fabriciano. “Aumentar o número de policiais civis na delegacia aqui é uma questão de urgência, urgentíssima”, disse, acrescentando que, proporcionalmente ao número de habitantes, Fabriciano tem o maior índice de criminalidade no Vale do Aço. “Então aqui precisa daquela dosagem de remédio amargo. Precisamos de mais condições de trabalho”, ressalta. Ainda segundo ele, muitos policiais civis “trabalham cabisbaixos depois das denúncias de corrupção envolvendo o ex-delegado João Xingó (hoje aposentado), delegados e investigadores da delegacia de Coronel Fabriciano”.


“Aumentar o número de policiais civis na delegacia aqui é uma questão de urgência, urgentíssima”
Paulo César Dettogne, delegado titular da Delegacia de Coronel Fabriciano

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