Cidades

Governo de milicianos

Fernando Benedito Jr.

O presidente da República e seus filhos têm dado reiteradas demonstrações e declarações públicas que não apenas reafirmam o discurso de ódio que mantiveram durante a campanha eleitoral e trouxeram para o poder, mas que também revelam toda a sua crueldade, paranóia, ignorância (no sentido de burrice, mesmo) e psicopatia – o que parece ser um traço genético. Mostram na prática, sem nenhum pudor o quanto desprezam a paz, a harmonia, a alegria e mesmo a família, que tanto dizem defender.  As atitudes e declarações são reflexos da ignorância bruta que tanto prezam, seja no sentido mental ou físico. A incitação às invasões de territórios indígenas, o estímulo à violência policial, a ironia com a morte de uma criança, as polêmicas com artistas e intelectuais que “mamam na Lei Rounet”, o baixo calão e estatura intelectual que ostentam escondidos na virtualidade das redes sociais são lamentáveis, face aos cargos que ocupam. Tanto quanto é lamentável quem ainda os defenda, acreditando que algo está mudando no País.

O senador Eduardo Bolsonaro não esconde seu apreço por armas de fogo

A família Bolsonaro mantém relações complicadas no Rio Janeiro. Não é segredo que alguns dos principais nomes dos gabinetes dos filhos Flávio e Carlos, respectivamente, então na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal, eram ligados às milícias cariocas. Aliás, a dificuldade na apuração do Caso Marielle, é sintomática neste sentido. Seu combativo mandato em defesa dos direitos humanos e das comunidades cariocas entrava em confronto direto com os mandatos engajados com milícias, entre os quais o dos pequenos psicopatas Eduardo, Flávio e Carlos, tal qual o pai. Da liberação da posse de armas, defesa da execução de “bandidos” (e de opositores) e fim dos direitos humanos, passaram, uma vez no poder, a estimularem abertamente a intolerância racial, o desmonte de políticas culturais e educacionais, trabalhistas, a violência contra trabalhadores sem-terra, indígenas, esquerdistas e quem mais não se enquadra no mesmo perfil de psicopatia que eles. Até no trato com iguais utilizam táticas de desqualificação quando não pensam como o clã de milicianos ou não atendem suas ordens insanas, como nos casos de Sérgio Moro, volta e meia desautorizado, e Bebianno, já “degolado”.

Há casos em que o culto às armas assume traços de psicopatia

As táticas milicianas de pais & filhos, agora, adotadas na política são visíveis como no Caso Queiroz ou dos laranjas do PSL. Cometem os crimes e tentam veladamente apagar as pegadas, mas acabam deixando mais indícios do que os que tentaram esconder. Outras vezes, como no apego e culto às armas, não fazem questão nenhuma de segredos.

A insanidade também avança para as relações internacionais. Inspirados em Donald Trump, quase arrumaram uma guerra com a Venezuela, onde um dos poucos governos de esquerda na América Latina passa por uma difícil situação imposta pelo bloqueio internacional que está vivendo a partir de medidas adotadas pelos EUA e pelo Grupo de Lima. Muitos críticos do governo de Maduro não questionam o interesse norte-americano na maior reserva de petróleo do Hemisfério Sul, ou o fato de Maduro ter sido eleito numa disputa com seus principais rivais soltos. No Brasil, Bolsonaro não só questionou vigorosamente a legitimidade das urnas eletrônicas durante toda a campanha eleitoral, colocando em xeque um dos pilares da democracia (o sufrágio universal) como conseguiu que seu ministro da Justiça prendesse seu principal opositor. Há que se frisar que sem esta medida, a prisão de Lula, é certo que Bolsonaro jamais se elegeria. De qualquer maneira, nunca saberemos se o resultado poderia ter sido outro. No entanto, se acha no direito de questionar a legitimidade, soberania e auto-determinação de outro País e outro governo.  Não tem essa autoridade e, por sorte, sua quase guerra, não passou, como sempre, de bravatas. Também no caso da Venezuela a tática de miliciano salta aos olhos.

O culto às armas e ao ódio estimulado pelo clã Bolsonaro parece que começa a ser percebido por uma parcela da população. Cada vez que entram numa polêmica atingem alguém com seus disparos a esmo e deixam perplexos muitos outros, que, em meio ao tiroteio se tornam danos colaterais das balas perdidas. Estes são aqueles que serão atingidos por petardos como a Reforma da Previdência e outras bombas feitas para liquidar pobres, desvalidos e desprotegidos.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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