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Glenn Greenwald confirma conluio de Moro com procuradores da Lava Jato

Em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o jornalista reafirmou a autenticidade das conversas vazadas e divulgadas pelo site The Intercept Brasil

BRASÍLIA – O fundador e colunista do site The Intercept Brasil, Glenn Greenwald, confirmou em audiência na Câmara, que houve conluio entre o ex-juiz Sérgio Moro, atual ministro da Justiça, e os procuradores da República que compõem a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, para fraudar a democracia e agir com parcialidade, ferindo mortalmente o Judiciário brasileiro nas decisões proferidas nos processos julgados na operação. Um dos principais prejudicados, segundo o jornalista, teria sido o ex-presidente Lula.

Glenn fez a defesa da liberdade de imprensa e da transparência, reafirmou a autenticidade das conversas vazadas entre o ex-juiz e procuradores da Lava Jato, no aplicativo Telegram, que estão sendo publicadas pelo site The Intercept Brasil, desde 9 de junho.

LADO OBSCURO

O jornalista ressaltou que o site que edita está enfrentando as pessoas mais poderosas do País, o que resultou em ameaças contra a sua vida e a de sua família. Ele disse ainda que continuará o trabalho de divulgação do “lado obscuro da Lava Jato”.

“A Constituição protege e garante a liberdade de imprensa contra os ataques que Sérgio Moro e o partido do governo estão tentando fazer. Ninguém tem medo do seu partido [PSL]. Nossa redação, os jornalistas brasileiros que estão agora trabalhando com essa reportagem para continuarmos publicando esses documentos até o final. Nem seu partido, nem o governo do Bolsonaro, nem Sérgio Moro podem fazer nada para impedir isso”

A reunião na Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (25) para ouvir Greenwald durou seis horas e meia. 40 deputados do governo e da oposição se alternaram para falar contra e a favor do jornalista.

CRIME

Falando em nome da liderança do governo, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), afirmou que os documentos vazados eram resultado de crime de hackeamento e, ao mesmo tempo, que as conversas não eram autênticas:

“Querem criar um caso em torno de algo que não existe. Querem dizer que o Sérgio Moro cometeu um crime, porque eu recebi de uma fonte anônima. Quer dizer, tudo pode, só não pode pegar o fato real, os áudios e periciar as provas”, criticou.

A deputada provocou Greenwald a mostrar durante a sessão os áudios que diz ter sobre o caso envolvendo Sérgio Moro e integrantes da Lava Jato. “Mostre aqui e agora os áudios”, exigiu a deputada. Greenwald disse que o material é mais complicado de ser exibido e precisa ser melhor analisado. “Estamos analisando e vamos divulgá-los, com responsabilidade. E a senhora vai se arrepender deste desejo”, disse ele.

HOMOFOBIA

Durante sessão, o jornalista Glenn Greenwald ficou incomodado com o deputado federal José Medeiros (Podemos-MS), que se referiu ao deputado David Miranda (PSol -RJ), marido de Greenwald, como “parceiro sexual”. O deputado ainda acusou Greenwald de crime de receptação de material roubado.

“Gostaria de lembrar ao deputado que o Supremo Tribunal Federal acabou de tornar crime a homofobia, e não é primeira vez que o deputado se refere à minha vida sexual, o que eu acho um pouco estranho e que deve ser examinado. Meu marido é meu marido, independente de qualquer desejo, se você está pensando sobre sexo, sobre nossa vida sexual. Vamos discutir o assunto que viemos tratar aqui”, respondeu Greenwald.

IMPRENSA LIVRE

Em outro momento, Greenwald foi questionado sobre a inocência ou culpa de Lula. Ele disse, então, não defender nem “Lula livre” nem “Lula na cadeia”, mas uma “imprensa livre”. “O caso do Lula, acho que em um processo justo, tem que ter um juiz imparcial. Não sei se ele é inocente, mas o processo não foi justo, quebraram as regras”, avaliou.

CPI

Vários deputados defenderam a convocação do ministro Sérgio Moro e mesmo a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para investigar todo o caso. Um dos autores do pedido para a realização da audiência, deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) ressaltou os efeitos do debate dentro da Câmara.

“A CPI está com o seu processo de coleta de assinaturas em curso, eu acho, sim, que nós vamos obter as assinaturas necessárias para passar a limpo a operação Lava Jato”, informou.

Jerry também enfatizou que o pedido de investigação não tem o objetivo de enfraquecer o combate à corrupção. “Para combater a corrupção, não se deve aceitar o cometimento de ilegalidades. Precisamos combater a corrupção cumprindo a lei eficazmente”, completou.

DEMOCRACIA

O deputado Fábio Trad (PSD-MS) avalia que se as mensagens vazadas são verdadeiras, estará caracterizada a parcialidade. “O que está em jogo não é o ex-presidente Lula, tampouco o ministro Sério Moro, mas o Estado Democrático de Direito.”

Deputados presentes à audiência formalizaram um pedido para que a Câmara garanta a segurança do fundador do site The Intercept.

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