Cultura

Filme “Faroeste Caboclo” recria Brasília dos anos 80

“Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro/Ganhava cem mil por mês em Taguatinga (…) Amanhã às 2h na Ceilândia/Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou”. Para quem não conhece o Distrito Federal, trechos como estes da letra da música “Faroeste Caboclo” sempre povoaram o imaginário. Agora, os cenários cantados por Renato Russo ganham forma com o longa homônimo de René Sampaio, que Faroeste Caboclo”, filme que tem estreia prevista para maio e coprodução da Globo Filmes.

Recriar lugares como a Ceilândia do começo da década de 1980 não é tarefa fácil. Ainda mais quando se leva em conta o pouco tempo que o Distrito Federal possuía à época (cerca de 20 anos), como conta o diretor de arte Tiago Marques. “Brasília e seus entornos é uma região muito nova, o que torna o trabalho de reconstrução um pouco mais difícil. Por isso, tivemos que trazer a maioria dos objetos do Rio de Janeiro e de São Paulo.”

CEILÂNDIA
No caso da Ceilândia, o cenário escolhido para recriá-la foi o Jardim ABC, que por situar-se mais distante de Brasília ainda conserva um clima inóspito, com ruas de terra vermelha e casas de alvenaria. Segundo Marques, fazer a cenografia nessa locação exigiu um trabalho de envelhecimento, para dar a impressão de que os objetos foram desgastados com a passagem de tempo e condições ambientais. “Quando o lugar é muito simples, a maioria das coisas é produzida por pessoas, sem passar por industrialização. É preciso então recriar as marcas para que tudo não pareça manufaturado.”

BRASÍLIA
Já no caso de Brasília, a direção de arte penou mais para encontrar objetos de época, que tiveram que ser trazidos de fora. “Brasília não tem muitas coisas de acervo, de vivência. Tivemos que buscar muita coisa em lojas de antiguidade, principalmente no Rio”, diz o decorador de set Odair Zani.

Além da distância, outro empecilho para montar os cenários foi a proximidade de época. “As pessoas ainda não se desfizeram de muitas coisas que usavam nos anos 80 e as mantêm em casa. Por isso muita coisa só encontramos em feiras de troca.” Pessoalmente, Odair diz que o objeto de maior valor sentimental que conseguiu encontrar foi um Aquaplay, brinquedo famoso naquela década. “Foi muito difícil achar um que funcionasse direitinho”, lembra.

MÓVEIS
Outra questão foi resgatar móveis e objetos de decoração, assim como pequenos detalhes como fechaduras e tomadas de dois pinos. “Aqui em Brasília quase não se encontram luminárias de teto, porque os prédios costumam ter o pé direito baixo e, portanto, não precisam desse tipo de iluminação. Já os móveis que eram usados nos prédios públicos, produzidos pela fábrica L’Atelier, viraram objeto de desejo atualmente, então as pessoas têm receio de emprestar”, conta.

E quando não se encontram as referências necessárias para a filmagem? “Aí temos que recriar o objeto e envelhecê-lo artificialmente”, revela Zani. Só assim para decorar uma típica delegacia de época como a que aparece em uma cena do longa. “Envelhecemos uma pasta de cartolina com graxa para limpar sapatos, por exemplo.”
Todo esse apuro, segundo Zani, se paga quando o filme fica pronto. “Tem uma cena em que a Maria Lúcia (Ísis Valverde) pega um cubo mágico e começa a brincar com ele. Naquele momento, o objeto se torna parte da história, e isso é uma recompensa muito grande do nosso trabalho”, diz.

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