Policia

“Eu não queria acreditar nisso, eu deixei meu filho bem em casa”

Kaio foi morto depois de ser agredido; padrasto é o principal suspeito e está foragido    
  (Reprodução/Álbum de Família)

IPATINGA – Considerando estar sendo acusada injustamente de omissão de socorro, a mãe da Kaio Lucas Garcia Negris, de 2 anos, morto depois de ser espancado, procurou um programa de rádio na manhã de quarta (28) para dar sua versão dos fatos. O principal acusado do crime é o padrasto do menino. Laudo do Instituto Médico legal (IML) apontou que a criança faleceu em decorrência de uma hemorragia interna.
Mirian Fortunato Garcia Negris, 25 anos, concedeu entrevista ao jornalista do Programa Plantão Policial, Adair Alves. Ela repetiu sua primeira versão, de que saiu de casa na manhã de domingo (25) e deixou o filho sob a responsabilidade do marido, Rainuenio Campidelis Correia, 24 anos, padrasto da criança. Segundo ela, neste momento, a criança estava bem e não apresentava nenhum tipo de hematoma. Com autorização de Mirian, que foi acompanhada por seus irmãos até a rádio, a gravação foi cedida ao DIÁRIO POPULAR.
Mirian disse que em nenhum momento está sendo alvo de investigação da Polícia Civil e que tem comparecido à Delegacia de Homicídios somente para prestar esclarecimentos. Com a orientação da delegada responsável pelo caso, Irene Angélica Franco, a mãe de Kaio preferiu ser prudente durante a entrevista para não atrapalhar as investigações da PC. Rainuenio, principal acusado das agressões, continua foragido.

REPÓRTER
– O que aconteceu naquele domingo?
MIRIAN – Estava tudo normal lá em casa. Levantei, preparei o café, depois mais tarde fui assar uma carne e preparar o almoço. Meu filho Kaio estava sentado comendo carne na calçada e não tinha lesão nenhuma. Depois meu irmão apareceu lá em casa para ir comigo buscar um lavatório. Esperei ele almoçar, depois ofereci almoço para o Kaio e ele disse que não queria porque tinha comido carne e tomado refrigerante. Então troquei de roupa, saí e deixei o Kaio deitado num colchãozinho.

REPÓRTER
– Que horas você saiu de casa?
MIRIAN – Saímos era mais ou menos umas 3 horas da tarde. Buscamos o lavatório, o levamos para o Esperança. Esperei meu irmão fazer a instalação dele no salão e saímos. Fomos à casa da minha mãe pegar meu outro filho e fomos embora.

REPÓRTER – E o que aconteceu quando você retornou para casa?
MIRIAN – Meu marido jogou a chave pela sacada da casa, brincou ainda com meu filho mais velho e subi. Quando cheguei à porta, ele já estava me esperando lá. Ele parecia tranquilo, não estava nervoso. Estava tudo normal. Depois me puxou pelo braço e me chamou para o quarto. E deparei com Kaio do mesmo jeito que o deixei, tampado com uma cobertinha.

REPÓRTER – O que seu marido disse?
MIRIAN – Ele disse: “Às vezes eu posso não ter sido um bom marido. Por ter sido um usuário de drogas, às vezes eu preciso me tratar com psicólogo”. E eu não sabia onde ele queria chegar dizendo isso tudo. Mas disse: “eu acho que dei uma dose de xarope a mais para o Kaio”. Quando ele falou isso, eu pulei em cima do meu filho e quando peguei no Kaio ele já estava frio, com a boquinha aberta, todo roxo. Aí eu fiz respiração boca a boca, massageei o peitinho, não querendo acreditar que meu filho estava morto e que estava só desmaiado. Ainda saiu um líquido da boca dele com cheiro de remédio e em todo tempo meu marido falava que iriam culpá-lo pelo ocorrido.

REPÓRTER
– Você pediu socorro?
MIRIAN – Pedi para ele chamar o SAMU, bati na janela gritando por socorro. A minha vizinha que mora embaixo veio me acudir. Ela subiu correndo e eu saí quebrando tudo. Estava desorientada. Minha vizinha me acalmou e nisso o Rainuenio veio com ele no colo e o colocou no carro de um vizinho e levou meu filho para o Hospital. Eu fui no outro carro atrás, junto com essa minha vizinha.

REPÓRTER – Como foi o atendimento no hospital?
MIRIAN – O pessoal me acalmou falando que ele já estava sendo atendido e eu achei que meu filho estava vivo ainda. Mas aí depois eu entrei lá e vi que Kaio estava deitado num cantinho lá na maca e morto. Eu não queria acreditar nisso. Eu deixei meu filho bem em casa e aí me perguntaram por que meu filho estava cheio de machucado, e depois disso me levaram para a sala da assistente social e eu fiquei sem saber o que tinha acontecido.

REPÓRTER – E onde estava o Rainuenio depois disso?
MIRIAN – Ele só ficou do lado de fora. Depois perguntei por ele e me disseram que ele tinha pegado uma moto, desesperado e saído, falando outra vez que iriam culpá-lo pela morte do meu filho. E depois disso me levaram para a casa dos pais dele para esfriar a cabeça. E até então eu não tinha certeza de nada. Depois ele apareceu lá na casa dos pais dele dizendo que só tinha dado o xarope para o Kaio. Ninguém lá no hospital falou comigo que meu filho poderia ter sido assassinado e fiquei sem saber o que tinha acontecido.

REPÓRTER – Você teve contato com o Rainuenio depois disso?
MIRIAN – Não. Nunca mais o vi, nem mesmo falei por telefone. Suspeitaram de homicídio porque meu filho estava cheio de hematomas e ele deve ter tomado conhecimento disso e com certeza ele deve ter sumido. Mas, se ele tiver devendo, ele vai ter que pagar.

REPÓRTER – Ele era agressivo com você e seu filho?
MIRIAN – Não. Mas meu filho mais velho já tinha me contado que tinha ganhado umas chineladas dele, coque na cabeça e até me contou que viu o Rainuenio batendo de chinelo no Kaio dentro do banheiro, no quarto, mas ele tinha medo de contar. Nós já tivemos algumas brigas, mas sempre deixei bem claro pra ele que não aceitava bater nos meus filhos.

REPÓRTER – Esta então é a verdadeira história.
MIRIAN – Eu não posso falar muita coisa porque não posso atrapalhar a investigação da polícia. Eu quero dizer para a população que eu não estou sendo investigada de nada. Se meu filho estava com hematomas já de dias igual foi relatado, eu não fiquei sabendo e nem vi isso. E se houve isso anteriormente eu também quero esclarecimento tanto do padrasto, quanto da creche onde meu filho ficava. Como Kaio tinha hematoma e ninguém percebeu antes? Eu também quero saber a verdade do que aconteceu.


PARECER MÉDICO

Conforme o Boletim de Ocorrência que registrou a morte de Kaio, o menino foi atendido no Pronto Socorro Municipal no domingo (25) e os médicos constataram que o corpo da vítima apresentava diversos hematomas no tórax, dorso, braços, pernas, testa, nariz, boca e arranhões no pescoço.
Ainda conforme o médico pediatra que emitiu o laudo do atendimento, as lesões encontradas na criança teriam sido provocadas no dia anterior, ou seja, no sábado (24). Uma denúncia anônima dando conta de que a criança havia sido espancada um dia antes reforça o parecer do médico de que os ferimentos não eram do dia. Laudo do IML comprovou a tese de espancamento.

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