Cidades

E agora, Alexandre?

Essa frase, atribuída ao lendário Alexandre, o Grande, uma das personalidades mais fascinantes da História, bem que poderia se aplicar a outro Alexandre, o Silveira, delegado de polícia, deputado federal e secretário estadual de Gestão Metropolitana, e que emerge das urnas como o maior derrotado nas eleições de 2012 na Região Metropolitana do Vale do Aço.
Se antes de a corrida eleitoral começar, ainda no distante mês de junho, Alexandre Silveira já se arvorava como o principal articulador político do “campo do governo Anastásia” em 40 cidades, aí incluídas as do Vale do Aço, e seus assessores ofereciam verdadeiras fortunas para profissionais – da área de Comunicação, inclusive – que quisessem se engajar em uma dessas campanhas, a situação agora é outra. O otimismo, que beirava a empáfia, deu lugar à ressaca eleitoral, ao silêncio dos derrotados. É hora de lamber as feridas.
Mais do dizer que o PT foi o grande vencedor das eleições 2012 no Vale do Aço, podemos dizer que Alexandre, o Silveira, foi o grande derrotado. Seus candidatos perderam nas quatro principais cidades da RMVA: Santana do Paraíso, Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo. A essa lista somam-se várias outras cidades do Colar Metropolitano. A rigor, pode-se dizer que Belo Oriente foi uma das poucas cidades da região em que o deputado conseguiu emplacar um aliado. Resta saber se, como outros já o fizeram, o futuro prefeito Pietro Chaves não irá, agora, renegar o importante apoio que teve do deputado.
Uma das derrotas mais doloridas – ou dolorosas – para o deputado deve ter sido a de Timóteo, onde, além do “afilhado” Sérgio Mendes, ainda prefeito, tem o seu ex-chefe de Gabinete Marcelo Afonso, vice-prefeito até o dia 31 de dezembro próximo. Dolorida – e dolorosa – também deve ter sido a derrota em Caratinga, onde Alexandre Silveira apoiava o ex-prefeito Ernane Porto, que, de favorito disparado, virou um renegado e acabou conhecendo a derrota quando teve sua imagem atrelada à do secretário de Gestão Metropolitana.
Mas a culpa não é só de Alexandre Silveira. Deve ser dividida com o seu séquito de assessores e bajuladores. Desde que o deputado conseguiu emplacar o lerdo e inepto Robson Gomes na eleição extemporânea de Ipatinga, o reputavam como o novo gênio da política mineira, tal como Alexandre, o Grande, cujos generais – como os assessores do deputado – chegaram a supor que fosse filho de Zeus, o líder dos deuses do Olimpo. Essa liderança, porém, esvaiu-se como fumaça. O grande líder passou a ser tratado como um leproso político, até mesmo por quem sempre usufruiu das suas benesses.
Emblemático dessa situação é a declaração do prefeito de Mesquita, José Euler, um dos primeiros a atribuir publicamente a culpa de sua desgraça nas urnas ao deputado federal do PSD: “A imagem negativa deste deputado teve efeito de bomba atômica e trouxe um prejuízo irreparável para as nossas campanhas.” Lá atrás, até a Rosângela Reis já havia “cantado a pedra”, mas também não escapou dessa “maldição”. Celinho do Sinttrocel e Sérgio Mendes, dos poucos que não renegaram publicamente Alexandre, tiveram a mesma sorte – ou melhor, o mesmo azar. Mesmo quem dizia que nem conhecia Alexandre, como Fernando Lima, de Santana do Paraíso, e outros menos cotados, também foram parar no limbo.
Pois bem, nesse cenário, qual será o futuro de Alexandre Silveira como secretário de Gestão Metropolitana? Com que cara ele vai sentar-se à mesa, a partir de janeiro de 2013, com os prefeitos e prefeitas que ele tentou, de todo jeito e até a última hora, derrubar? Como se dará essa interlocução? Qual a possibilidade de a Região Metropolitana do Vale do Aço “vingar” se quase todos os prefeitos eleitos sentiram na pele o jeito de fazer política do deputado-secretário? E agora, Alexandre?
Essa batata quente caiu no colo do governador Antônio Anastasia e do senador Aécio Neves, principais padrinhos de Alexandre Silveira e da maioria dos candidatos derrotados na Região Metropolitana do Vale do Aço. Se esperavam construir, a partir da RMVA, um novo feudo político, caíram do cavalo. E pior – para eles, pelo menos: viram crescer um sentimento de oposição e rejeição que pode, a partir do Vale do Aço, ganhar corpo em todo o Estado e culminar, em 2014, com a grande derrota dos tucanos em Minas Gerais.
Por fim, seguindo nessa mesma linha comparativa, a derrocada política de Alexandre, o Silveira, pode ser atribuída ao mesmo motivo que levou Alexandre, o Grande, a perder o grande e poderoso reino que formara no Século IV antes de Cristo: a ambição. Coincidentemente, a principal força a derrotar os dois Alexandres foi também a mesma: a resistência do povo – num caso, contra a tirania de um rei violento, e, no outro, contra a tutela e os desmandos políticos. Por fim, se Alexandre, o Grande, deixou legado importante, como a difusão da cultura grega no Oriente, e daí para a cultura helenística, Alexandre, o Silveira, teve também um grande mérito: unir o Vale do Aço.

(*) Jornalista e morador de Ipatinga.

Você também pode gostar

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com