Policia

Dor e confusão em enterro das vítimas de acidente da Conenge

Amigos, familiares e colegas de trabalho foram deixar o último adeus às vítimas da tragédia

 

IPATINGA – Em meio a comoção e revolta, as famílias das vítimas do trágico acidente ocorrido na tarde do último sábado (17), na BR-040, em Felixlândia, na região Central de Minas, enterraram seus parentes na manhã desta segunda-feira (19).
Ao todo, 15 passageiros (ver nomes no quadro) do ônibus que levava trabalhadores de Paracatu, no Noroeste de Minas, para Ipatinga morreram. O veículo se chocou com uma carreta que transportava um suporte de turbina eólica.
Na manhã de ontem, em Ipatinga, cinco corpos foram enterrados no Cemitério Parque Senhora da Paz. O restante das vítimas também já foi sepultado, nas suas cidades de origem, como Belo Oriente, Vargem Alegre, Ipaba e Dores de Guanhães.
Maria das Graças Lourenço, 55 anos, é mãe de Nivaldo José Lourenço, 33 anos. A dor da dona-de-casa era tão grande que ela se debruçou no caixão do filho. Ela conta que Nivaldo havia pegado uma “parada” de cinco dias na empresa e só ficou sabendo da notícia por meio dos jornais. “Quando ele estava indo, se despediu e disse para que eu ficasse com Deus, e falei para ele ir com Deus também. Foi a última palavra que ele teve comigo”, lamenta.

CONFUSÃO
Além da dor de enterrar um parente, a família de uma das vítimas do acidente passou por outro momento difícil na manhã desta segunda. O caixão onde estava o último corpo a ser sepultado, o de Gilberto de Souza Gonçalves, 51 anos, foi aberto por familiares.
A irmã dele, Eva Gonçalves de Souza, na dúvida, resolveu conferir e alegou que o corpo que estava sendo velado não era do irmão. “Eu pedi para abrir, porque entregaram uma certidão de óbito como indigente. Ninguém deixou a gente ver”, reclamou.
Com a confusão, outras famílias exigiram que os caixões fossem abertos. Cunhada de Nivaldo, que já havia sido sepultado, Shirley da Silva, 30 anos, se indignou e também exigiu que o caixão dele fosse aberto. “A gente ficou velando toda a noite quem ali? Ninguém tem prova de que é ele quem está neste caixão. Queremos que abram o caixão, pois precisamos confirmar se é ele mesmo”, disse.
Depois de uma hora em que o caixão onde estava o corpo de Gilberto continuava aberto, a Polícia Militar tentou conter os ânimos dos familiares e orientou que os parentes deixassem enterrar o cadáver ou que levassem o corpo da vítima ao Instituto Médico Legal de Ipatinga. Os parentes chegaram a um acordo e concordaram em sepultar o corpo, mas alegaram que irão entrar na justiça para pedir exumação do cadáver.


Uma das famílias abriu o caixão alegando que não se tratava do parente morto; com a confusão, outras famílias exigiram o mesmo

 

Famílias apontam demora e falta de informação
Ipatinga
O mecânico, Davi Malta, 34 anos, foi a Curvelo (cidade para onde as vítimas foram levadas) reconhecer o corpo de irmão, o também mecânico Isaías Vieira, 31 anos. Segundo relatou à reportagem, o processo de reconhecimento dos corpos foi longo e faltaram informações. “Primeiro não sabiam se ele tinha morrido e nos falaram que havia dois feridos graves em Belo Horizonte. Fomos lá e não reconhecemos. No IML de Curvelo, tinha três corpos sem identidade, mas também não eram do meu irmão. Então, nos autorizaram a abrir 12 caixões com os corpos já identificados. No décimo, eu vi que era o Isaías, ou seja, ele ia ser enterrado por outra família”, afirma, acrescentando que a identificação dos corpos muito mutilados foi feita apenas com os documentos dos trabalhadores, o que pode ter gerado o equívoco.


Um parente achou o corpo do irmão identificado como outra vítima: “ele ia ser enterrado em outra família”

 

ULTRAPASSAGEM PODE TER SIDO A CAUSA DA COLISÃO
FELIXLÂNDIA
– O delegado de Curvelo, André Pelli, informou que pode indiciar o motorista do ônibus por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). O policial já ouviu depoimentos do condutor da carreta e dos dois motoristas dos carros batedores que o acompanhavam.
O trágico acidente na tarde deste sábado (17), envolvendo uma carreta e um ônibus da empresa Conenge na BR-040, altura do km 393,4, na cidade de Felixlândia, região Central de Minas, deixou 15 pessoas mortas, 29 feridas e 10 pessoas com pequenas escoriações.
O motorista do ônibus teve apenas o braço quebrado. O ônibus transportava 45 funcionários da Conenge, empreiteira de Ipatinga. Eles voltavam para a cidade após trabalharem por uma semana em Paracatu, na Região Noroeste do Estado, quando o coletivo se chocou contra a carreta, que vinha de Santo André (SP) com destino ao Ceará.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o motorista do ônibus teria feito uma ultrapassagem perigosa em uma curva da BR-040. Segundo trabalhadores que não se feriram, uma antena eólica, em formato de tubo de aço, rasgou toda a lateral do ônibus quando o motorista que transportava os trabalhadores tentou uma ultrapassagem. Todos os mortos e feridos graves estavam sentados deste lado.
Heleno Conte, proprietário da Conenge, esteve no sepultamento das vítimas e praticamente confirmou a versão da PRF, apesar de ainda não possuir um laudo da perícia. “O que nós sabemos é que o motorista nosso estava atrás de um caminhão de carvão e o batedor que seguia sentido contrário deu sinal para o condutor do caminhão, que foi para o acostamento. O nosso motorista entendeu que ele estava dando passagem e aí ele ultrapassou e a carreta com a peça veio de encontro. E não teve como sair porque a carreta com carvão estava do lado”, acrescenta.
O proprietário se manteve o tempo todo ao lado dos familiares e falou à imprensa que não entende até agora como tudo isso pode ter acontecido. “Há 17 anos estamos na estrada fazendo esse tipo de serviço em Vitória, Rio, Paracutu, BH, e nunca tivemos nenhuma batida”, lamenta.
Segundo o proprietário da Conenge, a empresa está dando toda a assistência necessária às famílias das vítimas. Foram oferecidas hospedagens e alimentação em Curvelo (para onde as vítimas foram levadas). Heleno disse ainda que os familiares irão receber a visita de um assistente social, para explicar todos os direitos que eles possuem. Todos os funcionários possuíam seguro de vida.

NOTA
Por meio de nota, o Governo de Minas afirmou que “se solidariza com os familiares das vítimas do acidente e que, neste momento de dor que atinge toda a comunidade de Ipatinga e do Vale do Aço, externa suas condolências a todos os que direta ou indiretamente foram atingidos por este triste episódio”. A nota também deseja o pronto restabelecimento dos feridos.


Uma antena eólica, em formato de tubo de aço, rasgou toda a lateral do ônibus


Para proprietário da empresa, tragédia não pode ser mensurada

 

Veja a lista oficial de mortos

1 – Adriano Ferreira Lopes, 28 anos
2 – Altair Bicalho, 44 anos
3 – Carlos Ferreira dos Santos, 46 anos
4 – Cleudes Macedo Gomes, 26 anos
5 – Davi de Farias Mendes
6 – Edson Gomes da Silva, 26 anos
7 – Gerson Batista de Souza, 61 anos
8 – Gilberto de Souza Gonçalves, 51 anos
9 – Isaías Vieira de Souza Gonçalves, 29 anos
10 – Ivanildo Vieira Gomes, 29 anos
11 – Jadson Gonçalves Lage de 29 anos
12 – Joel Lucindo de Andrade, 52 anos
13 – José Maria Barreto, 33 anos
14 – Nivaldo José Lourenço dos Santos, 40 anos
15 – Thadeu Fernandes Shubert

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