Cultura

“Do Bom Jardim pro mundo”

Criado no bairro Bom Jardim, o tatuador Ítalo Nanais conquistou respeito internacional com seu trabalho
(Fotos: Bruno Soares)

Tatuagens em praticamente todo o corpo, alargadores nos lóbulos das orelhas, visual alternativo. As semelhanças de Ítalo Nanais com outros profissionais que vivem da arte de desenhar no corpo das pessoas terminam quando ele assume o controle de sua máquina elétrica e começa a "riscar" os clientes que o procuram em seu estúdio.

"A riqueza de detalhes, a profundidade das sombras, a maneira com que as cores são colocadas. Essas características do trabalho dele me incentivaram a parar de enrolar e fazer a minha primeira tatuagem", revela o produtor cultural Francisco Petrônio, um dos inúmeros interessados que têm deixado a lista de espera do estúdio DOMUS TATTOO tão concorrida quanto a busca por atendimento médico no Sistema Único de Saúde (SUS).

Neste domingo (09), Ítalo alça vôo para uma temporada de trinta dias nas cidades francesas de Córsega e Bastia. Convidado para ministrar workshops a profissionais da Europa, o tatuador criado no bairro Bom Jardim, em Ipatinga, retorna ao velho mundo, desta vez, por uma motivação diferente. "A primeira vez que estive na Europa foi aos 18 anos. Fui para Portugal em busca de melhores condições de vida. Trabalhei com diversos tipos de serviço, desde ajudante de pedreiro a montador de móveis. A tatuagem surgiu de forma inesperada. Eu grafitava nos dias de folga e alguns amigos me disseram que eu tinha um dom", inicia o tatuador que viveu dos 18 aos 25 anos na cidade de Setubal, próximo capital Lisboa.

"Eu trabalhava muito naquele tempo, trabalho pesado. Fazia algumas tatuagens, sempre durante a noite. Na maioria das vezes virava a madrugada tatuando, desenhando ou estudando", completa o artista. O retorno ao Brasil se deu no início de 2013, após ter conquistado experiência no ofício ao lado dos melhores tatuadores europeus e enfrentar a opinião contrária dos amigos brasileiros sobre a realidade de ser tatuador em seu país de origem. "Conversava com meus amigos sobre a ideia de voltar e trabalhar com isso aqui. A maioria tentou me desmotivar. Mas a visão que eu tenho sobre a tatuagem me deu a segurança para vir e fazer dar certo", afirma.

De volta a Ipatinga, e com o peso de algumas opiniões negativas sobre o que gostaria de realizar, Ítalo encontrou a saída para divulgação de seu nome nas competições e festivais de tatuagem realizadas no país. "Cheguei e me inscrevi em tudo o que era festival ou campeonato. Minha vontade era conhecer a realidade local e divulgar meu trabalho. Acabou que deu certo", avalia o tatuador que conta com cerca de 20 premiações entre primeiros e segundos lugares conquistados em eventos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro Espírito Santo e Goiás.

"A tatuagem é, na maioria das vezes, discriminada e até mesmo criminalizada. O que nos diferencia de um pintor ou um artista plástico é que nossa arte fica eternizada no corpo da pessoa. O que, para mim, é algo muito mais emocionante", brinca o tatuador.

Sobre a diferencial que julga responsável pelo sucesso de seu trabalho em pouco mais de um ano de volta ao país, Ítalo Nanais pontua sua visão de tatuagem enquanto produção artística. "Proponho sempre um trabalho fundamentado em princípios artísticos As pessoas trazem seus desenhos, eu respeito a vontade de cada um. Entretanto, sempre tento demonstrar que uma tatuagem não se limita a desenhar ‘infinitos’, fadas ou meras reproduções", finaliza o tatuador que tem compromissos já confirmados no decorrer deste ano nos Estados Unidos, México e Peru.  (Bruno Soares)


Em seu estúdio no bairro Cidade Nobre; premiações em eventos de tatuagem formam a pequena galeria do artista

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