Cidades

Despolitizada e desmotivada, eleição ipatinguense teve grande abstenção

Fernando Benedito Jr.

A eleição suplementar de Ipatinga contrariou todos os prognósticos, dos mais otimistas aos mais pessimistas, das mais criteriosas e científicas pesquisas às mais arranjadas enquetes feitas para embaralhar os números e confundir a cabeça do eleitor. Exceto pelo fato de que Nardyello Rocha liderava as intenções de voto, ainda assim num resultado que se mostrou muito aquém do esperado – considerando os números das pesquisas, inesperados até por ele próprio. O mais grave, contudo, não são as tentativas de manipulação do eleitorado, as tentativas de captação do voto útil, os ataques de reta final de campanha, atitudes já “naturais” nas disputas eleitorais.

Em Ipatinga, chama a atenção o alto grau de despolitização ou de negação do voto como instrumento democrático de legitimação do poder. A abstenção de 31,71%, o que representa 57.152 mil eleitores, somados aos 21.328 votos nulos (17,33%) e 6.232 brancos (5,06%), mostra que o descontentamento popular com os políticos e a maneira como se faz política exige a redefinição da forma como se conduz a coisa pública, sob o risco de ficarmos à mercê do autoritarismo ou da completa anarquia. E o pior é que o cenário desenhado na eleição suplementar de Ipatinga de certa forma traduz um sentimento nacional. É a frustração com a experimentação de sucessivos governos sem que os problemas que mais afligem a população sejam resolvidos. É o desencanto e a impotência em eleger o candidato acreditando que ele será a “salvação da lavoura”, mas ele se torna um Átila, feroz praticante da política de terra arrasada, que vê com soberba a miséria grassar nos campos e cidades, e com o desdém da rainha Maria Antonieta diz aos famintos:

– Que comam brioches!

Maria Antonieta foi decapitada. Os políticos brasileiros estão correndo este risco se não mudarem o comportamento. Por enquanto, a negativa em votar e legitimar o atual sistema político tem sido a abstenção, mas pode se radicalizar, como estamos vendo no dia a dia, e chegar à guilhotina.

Por outro lado, a eleição suplementar em Ipatinga redesenha o cenário político na cidade. Com todas as contradições que o processo carrega em si mesmo. O eleitorado, ao mesmo tempo em que nega a política e os grupos políticos tradicionais (embora os eleja), demonstra querer o novo. É o que representa a expressiva votação de Daniel Cristiano, Wanderson Gandra e Sávio Tarso.

Esta eleição deixa claro ainda que os arranjos políticos entre as diversas forças que buscam o poder são fundamentais para levar a termo os diferentes projetos que se tem para a cidade. O bom posicionamento destes atores é o que determina os resultados. Se a esquerda, por exemplo, quiser ascender ao poder novamente vai ter que abrir mão das vaidades, dos projetos político-pessoais, da idéia de projeção de nomes para o futuro, e se unir. Claro, para isso as diversas forças e partidos precisam antes de capital político e eleitoral, inclusive para ter o que trocar, o que torna um pouco distante e utópico este debate. Mas o resultado desta eleição já é um bom balizador.

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