Policia

Defesa de falso policial acusa Carvalho de matar Rodrigo Neto

(Fotos: André Almeida)

 

IPATINGA – Foi realizada nesta segunda-feira (9) a primeira audiência judicial do caso Rodrigo Neto, jornalista assassinado a tiros em março deste ano. A sessão foi marcada por uma nova versão dos fatos, que foi apresentada pelos advogados de defesa dos réus, e que traz como suposto assassino o repórter fotográfico Walgney Carvalho, também executado a tiros no dia 14 de abril.

A morte de Rodrigo foi investigada por uma força tarefa da Polícia Civil de Belo Horizonte que se deslocou a Ipatinga para apurar casos criminais em que policiais figuravam como suspeitos. Em julho, a equipe apresentou os resultados e apontou o detetive Lúcio Lírio Leal e Alessandro Neves Augusto, vulgo Pitote, como assassinos do jornalista.

Segundo o inquérito policial, Lúcio teria seguido Rodrigo e informado seus últimos passos a Pitote, que, sobre uma motocicleta e acompanhado de uma terceira pessoa, teria alvejado e matado o radialista, famoso por suas reportagens policiais investigativas. Lúcio também seria o responsável por traçar uma rota de fuga para os assassinos escaparem após a execução do crime.

A dupla foi presa no mês de junho pelos policiais civis da capital mineira, sendo que Lúcio foi levado para a casa de custódia da PC, em Belo Horizonte, e Pitote para a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. De acordo com informações obtidas na época das prisões, Alessandro não ficou preso na região porque possuía boas relações com agentes penitenciários das unidades prisionais de Ipatinga e Coronel Fabriciano. Em agosto, os dois foram denunciados pelo Ministério Público de Ipatinga pelos crimes de homicídio qualificado e tentativa de homicídio, contra um amigo de Rodrigo que estava junto do jornalista no momento do atentado.

NOVA TRAMA
Ontem, os advogados de defesa se manifestaram publicamente pela primeira vez sobre as acusações que recaem sobre seus clientes e deram uma nova versão.

O advogado Rodrigo Márcio do Carmo Silva, que defende Alessandro Neves, explicou a trama na versão de seu cliente. A tese defendida por ele é de que Rodrigo Neto foi morto por Walgney Carvalho, que estaria descontente com o fato de o jornalista estar tomando seu espaço no jornal Vale do Aço.

Rodrigo havia retornado ao jornalismo impresso uma semana antes de ser assassinado a tiros ao sair de uma barraca de churrasquinho da avenida Selim José de Sales. Já Carvalho trabalhava como repórter fotográfico do Vale do Aço há vários anos, fazendo reportagens policiais. Em comum, os dois possuíam o fato de serem bastante conhecidos no meio policial do Vale do Aço e terem informantes dentro das polícias Militar e Civil da região.
Ainda conforme a defesa de Pitote, Carvalho teria contado com a ajuda de uma terceira pessoa para matar o jornalista. A motocicleta utilizada estaria sendo pilotada por esse autor, que não teve sua identidade revelada.

O advogado ainda afirmou que Carvalho teria confessado a Pitote que matou o radialista e deu o nome do seu cúmplice. Esta terceira pessoa seria amiga em comum e, ao saber que o fotógrafo vinha comentando sobre o caso, o assassinou pouco mais de um mês depois de matar Rodrigo Neto, em um pesque e pague do bairro São Vicente, em Coronel Fabriciano.

Questionado sobre a demora de Pitote para falar sobre o caso, Rodrigo Márcio disse que seu cliente teme ser morto pelo mesmo executor dos dois profissionais da imprensa, que estaria em liberdade. O advogado ainda criticou a forma como foram conduzidas as investigações deste caso.
Ainda nesta segunda-feira, a defesa de Pitote adiantou que se prepara agora para pedir a liberdade de seu cliente, seja por meio de habeas corpus ou de revogação de prisão.

LÚCIO

Também presente na audiência de ontem, o detetive Lúcio Lírio Leal prestou o depoimento mais demorado da sessão. O policial de 22 anos chegou a afirmar que gostaria de falar com a imprensa, mas depois mudou de ideia e sua defesa, encabeçada pelo advogado Fábio Vieira da Silveira, se manifestou, dizendo que o cliente não possui registros criminais em seu nome e que foi colocado no processo como um “boi de piranha”.

Contudo, a estratégia do advogado é de inocentar o policial, sem apontar supostos culpados. “A defesa do Lúcio não diz quem matou ou deixou de matar. A defesa do Lúcio diz que ele não participou do fato e não tinha interesse nenhum na morte de Rodrigo Neto”, explicou Fábio, em terceira pessoa.

Sobre pedidos de liberdade para o detetive, o defensor explicou que não irá fazê-los agora para não atrapalhar o andamento processual. “A defesa quer que o processo ocorra com celeridade e a gente aguarda que o juiz se manifeste nesse sentido (de liberdade ao réu) para não agarrar as investigações”, disse.

Investigador Lúcio (à esquerda) foi o penúltimo a ser ouvido e prestou o maior depoimento da sessão; Segundo defesa,Carvalho contou a Pitote (direita) que matou Rodrigo Neto e revelou ainda o nome da terceira pessoa envolvida


Rodrigo Márcio do Carmo apresentou nova trama que inocenta Alessandro, seu cliente


Fábio Vieira, advogado de Lúcio: “defesa não diz quem matou. Diz apenas que ele
não participou  da morte de Rodrigo”


“Eles são os matadores”, diz assistente da acusação

IPATINGA – A audiência de instrução desta segunda-feira também serviu para que fosse apresentado o nome de Délio Gandra como assistente do Ministério Público na acusação. O criminalista, que atua em Belo Horizonte, entrou no caso a pedido da família de Rodrigo Neto e participou de toda a sessão de ontem. Ao final dos trabalhos, garantiu que a tese da defesa não passa de uma tentativa de desnortear as investigações.

“Com tantos anos de advocacia eu nunca vi tanta mentira e tanto temor das pessoas. A justiça tem que ser feita nesse caso. Matar alguém da imprensa foi um acontecimento desastroso. É inaceitável que se tente escamotear a verdade em um processo dessa natureza”, afirmou enfaticamente.

Gandra apontou desencontro nas informações da defesa, criticou o fato de que um dos réus tinha conhecimento integral do processo, mesmo estando preso, e defendeu que as provas colhidas pela PC de Belo Horizonte são irrefutáveis. O advogado, que irá atuar ao lado do promotor Francisco Ângelo na acusação de Alessandro e Lúcio Lírio Leal, desqualificou ainda a tese apresentada ontem pela defesa.

“Isso é um arcabouço de mentiras, uma armadilha, uma coisa totalmente ajeitada. O sujeito morreu e não pode esclarecer coisa alguma. Aí eles (os advogados) atribuem a ele a culpa pelo crime”, disse, se referindo à teoria de que Carvalho teria sido o responsável pela morte de Rodrigo Neto.

Esta semana, outros três policiais que participaram das investigações do caso Rodrigo Neto prestam depoimento, por meio de carta precatória, na Comarca de Belo Horizonte. São as últimas testemunhas a serem ouvidas pelo Poder Judiciário, que terá em seguida a tarefa de decidir se os réus vão a julgamento.

Délio Gandra acredita que certamente os dois acusados serão levados a júri popular pelas acusações, e emendou: “Eu vou fazer todo o esforço para que a cadeia seja o melhor caminho para essas pessoas que mataram”, garantiu.


Assistente da acusação, Délio Gandra desclassificou teoria apresentada pela defesa

 

 

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