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Como uma lei divina pode ser negada por uma juíza terrena?, questiona Boff

CURITIBA – O ativista argentino e prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel não conseguiu visitar o ex-presidente Lula na sede da Superintendência da Policia Federal em Curitiba, na manhã desta quinta-feira (19) às 10 horas.
“Não pude ver Lula, tenho de esperar. São decisões deles. Eu gostaria que autorizassem minha entrada com o Leonardo Boff”, afirmou ao deixar o prédio. “A juíza está vendo o que fazer, e vou esperar. Não posso falar mais nada até o momento, já informei que amanhã viajo a Buenos Aires.” A expectativa é de que a Justiça se posicione ainda hoje, e que Esquivel possa realizar sua visita enquanto está na capital paranaense.
“Acabo de estar com o superintendente da Polícia Federal e temos que esperar a comunicação com a juíza para que possa habilitar a visita com Lula. Até o momento, as possibilidade estão fechadas. Temos que abrir as possibilidades e, agora, estamos esperando para poder encontrá-lo, dar um abraço e levar a solidariedade de muitas partes do mundo: de América Latina, Argentina, França, Itália. Isso é um problema mundial!”, denunciou.
Segundo prêmio Nobel da Paz da América Latina, em 1980, Esquivel protocolou por meio de seus advogados dois documentos junto ao judiciário do Brasil no Paraná, com relação à visita.

CONSULTA A LULA

No primeiro documento, formalizou pedido para visitar Lula no cárcere, no dia estipulado para visitas da família e amigos. O representante do Ministério Público Federal deu parecer no sentido de que a visita deveria ser deferida após consulta a Lula.
Por meio de seu advogado, Lula respondeu que não só autorizava, como desejava ver o amigo argentino. Na quarta-feira, a juíza da 12ª Vara Federal de Curitiba, Carolina Lebbos, responsável pela custódia do ex-presidente, comunicou nos autos que não permite a realização de inspeção. Apesar de admitir a relevância das Regras de Mandela evocadas no pedido de Esquivel, as autoridades consideraram que elas “não têm prevalência absoluta”.
As advogadas de Esquivel encaminharam uma petição ao Supremo Tribunal Federal e cópias do pedido de inspeção através de oficio para o Conselho Federal da OAB, a OAB- PR, a Presidenta do CNJ e do STF Ministra Carmem Lucia, e MPF dos Direitos do Cidadão.

LIVRE CIRCULAÇÃO
“Segundo a convenção, um Nobel da Paz pode circular pelo país todo, entrar nas favelas, nas prisões. Ele veio em nome da solidariedade, da humanidade”, explicou o teólogo Leonardo Boff.
Na saída do prédio da Polícia Federal, representantes do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável e do Movimento dos Atingidos por Barragens entregaram duas cartas ao argentino em apoio à indicação de Lula ao Nobel da Paz e listando os motivos pelos quais o ex-presidente é digno dessa honraria.

LEI DIVINA
Referência mundial na defesa dos direitos humanos e das populações mais vulneráveis, o teólogo Leonardo Boff, expoente da Teologia da Libertação no Brasil, passou a manhã sentado diante do prédio da Superintendência aguardando, sob forte calor, a autorização para visitar o ex-presidente.
“Eu que sou velho amigo de Lula vim em uma missão espiritual cumprir o evangelho de São Mateus: ‘Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”, explicou em ato na praça Olga Benário. “Como uma lei divina pode ser negada por uma juíza terrena?”
“Não nos calarão, é a pura verdade”, afirmou o escritor. “Vocês estão firmes na resistência e na coragem, reclamando a liberdade dele. Muitas vezes, circulando pelas comunidades de todo o Brasil, escutei dizerem que Lula foi o único presidente que melhorou a vida dos pobres. O melhor que ele nos deu foi resgatar a nossa dignidade de sermos pessoas. Não estamos sozinhos!”
“Em outro livro, o salmo 23 diz: ‘Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois tu estás comigo’. Lula não pode desanimar, tem que saber que aqui fora estão ligando por ele, gritando pelo país, homens e mulheres para dar força, pela coisa mais importante da vida que está sendo negada a ele, que é a liberdade”, encerrou.

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