Um mês depois das denúncias, chiqueiro no Ceresp foi desativado
IPATINGA – Tomou posse na manhã desta quarta-feira (7) o novo diretor geral do Centro de Remanejamento de Presos, o Ceresp de Ipatinga. Alexandre Rabelo foi nomeado para substituir o ex-diretor Valdeci Ribeiro da Silva, que teve sua exoneração publicada no Diário Oficial do Estado na terça-feira (6). A solenidade de apresentação e posse do novo diretor ocorreu a portas fechadas, no presídio, com a presença de secretários de Estado. A imprensa não teve acesso.
A Secretaria de Estado e Defesa Social confirmou a mudança e disse por meio da assessoria de comunicação, em Belo Horizonte, que a troca é um procedimento comum dentro do Sistema Prisional e que outras unidades do Estado também sofreram as mesmas mudanças.
Alexandre Rabelo já trabalhou como diretor de segurança do Ceresp de Ipatinga em anos anteriores. Depois passou a comandar o Presídio de Abre Campo (antiga cadeia pública) e agora retorna ao Vale do Aço como diretor geral do Ceresp. Já Valdeci Ribeiro da Silva, funcionário efetivo do Estado, volta para a função de agente penitenciário na Dênio Moreira de Carvalho, em Ipaba.
DENÚNCIAS
A saída de Valdeci Ribeiro da diretoria do Ceresp era iminente. O DIÁRIO POPULAR denunciou por várias vezes a insatisfação de alguns agentes penitenciários do Ceresp e estranhas situações que ocorriam nas dependências da unidade durante a administração de Valdeci.
Em reportagem publicada no dia 16 de setembro, o jornal mostrou a criação de aves e porcos dentro da unidade prisional. A situação foi denunciada por um grupo de agentes penitenciários, que apresentaram fotos do chiqueiro e de um galinheiro em uma área dentro do Ceresp. Os animais eram criados sem condições de higiene e ao lado de uma horta e um galpão de artesanato usado pelas detentas.
Ainda conforme as reclamações, os porcos eram abatidos covardemente a machadas, pauladas e facadas, dentro do próprio chiqueiro por um agente penitenciário. As partes dos animais também eram cortadas no mesmo local, que não possui estrutura física e higiene para a prática – e depois vendidas sem qualquer fiscalização.
MURO
Outro fato apontado na reportagem era que o chiqueiro ficava encostado no muro, facilitando a fuga de detentos, o que de fato acabou acontecendo. No dia 1º de outubro, um preso aproveitou a distração de um agente penitenciário e conseguiu fugir, subindo no telhado do chiqueiro e escalando o muro que dá acesso à área externa do presídio. À época, a própria Seds confirmou a fuga e disse que um procedimento administrativo seria instaurado na unidade para detectar a responsabilidade.
Estranhamente, depois do episódio da fuga do preso, os porcos desapareceram. Segundo contaram os agentes, mais de 10 leitões foram abatidos de uma só vez.
DESATIVAÇÃO
Dias depois da denúncia, o chiqueiro e o galinheiro foram completamente desativados. Fotos também publicadas pelo DIÁRIO POPULAR mostraram a estrutura das pocilgas desfeitas. Na ocasião, a reportagem ouviu uma pessoa ligada ao Sistema Prisional. Segundo ela, por causa da venda dos animais, a situação de Valdeci não era das melhores perante a Seds. No entanto, a Secretaria não confirmou a informação e disse que o valor arrecadado com a venda dos animais foi depositado pela unidade prisional ao Estado, por meio de um Documento de Arrecadação Estadual (DAE).
Causa das mortes de detentas é mistério
Ipatinga – Foi durante a administração de Valdeci Ribeiro da Silva que duas dententas morreram vítimas de uma doença de causa indeterminada. O caso ocorreu em maio deste ano. Na época, outras 18 pessoas ficaram internadas, entre elas dois agentes penitenciários.
A primeira morte ocorreu no dia 8 de maio. Aline Soares, 19 anos, foi atendida no Hospital Municipal de Ipatinga, mas rapidamente evoluiu para óbito. No dia 10, Dandara Maiara, 19 anos, foi levada com os mesmos sintomas e morreu no dia seguinte. Por causa da suspeita de surto de doença desconhecida, com risco de contágio dentro e fora da unidade prisional, a Secretaria de Estado de Saúde colocou toda a unidade prisional em quarentena na época.
Outras seis mulheres da mesma cela também apresentaram quadro clínico semelhante ao de Aline e Dandara e foram rapidamente medicadas com antibióticos, respondendo bem ao tratamento.
As mortes das duas detentas ainda são um mistério. Até hoje não se sabe do que elas morreram e de que tipos de doença foram acometidas.
Há seis meses, a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Saúde informou que os resultados dos exames sairiam em no máximo 30 dias. Ainda segundo a assessoria, o diagnóstico da doença desconhecida iria ser avisado primeiramente às famílias das detentas que faleceram e em seguida para a Secretaria de Saúde Municipal de Ipatinga.
No entanto, isso não ocorreu. O pai de Dandara procurou na última segunda-feira (5) uma rádio local para reclamar que até hoje não foi informado da causa da morte da filha. Um pedido de resposta foi solicitado pela reportagem à Secretaria, porém até o início da noite de ontem o departamento não havia conseguido a informação exata sobre a causa das mortes.
Após seis meses da morte de Dandara, causa ainda é desconhecida