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Cadê o boi que tava aqui?

Vamos ter que seguir na luta, agora pelo direito à proteína, mas sem abrir mão das bandeiras contra o ódio, a censura, o feminicídio, o armamento, a homofobia, a defesa da democracia e dos direitos humanos, do meio ambiente, contra o AI-5, o fechamento do Congresso, do STF, a subserviência aos EUA ou à China…

(*) Fernando Benedito Jr.

Não é justo que os brasileiros tenham que comer o pão que o diabo amassou, enquanto os chineses comem a carne que produzimos aqui simplesmente porque o mercado determina isso, porque o governo prefere o superávit da balança comercial (ninguém come balança comercial), porque os pecuaristas e o governo que defende os pecuaristas querem lucros, benefícios e a destruição das florestas para criar gado para os chineses comerem.

Se o chinês come, o brasileiro também tem que comer, uai. E de preferência os melhores cortes do Nelore, do Angus, e barato. Mas a lógica do mercado é perversa. Quando não tem chinês pra comprar, vendem no mercado interno mesmo, mais barato, mas os pecuaristas ficam puto com isso. É como se mercado interno só servisse para desova: ninguém quer, então vamos vender por aqui mesmo! Na primeira oferta em dólar, desabastecem aqui para ganhar dinheiro lá. É a “fidelidade” do capital aos consumidores nacionais.

Aí alguém sugeriu boicotar (sugestivo o termo) a carne. Só que não tem nem como boicotar. Já está boicotada. Se o consumidor encontrar no mercado, vai estar num preço tão alto, que de qualquer maneira não vai comprar mesmo. Aí o pobre coitado tenta “migrar” pro porco, peixe ou frango, só que com a escassez da carne de boi e o aumento da demanda pelas demais carnes, os produtores também elevam seus preços, seguindo a lei do mercado e do quanto mais, melhor. Às vezes nem precisa aumentar nada, porque não houve aumento de insumos, mas aumentam assim mesmo, só para ganhar mais, por ganância mesmo, oportunismo e safadeza.

Aos pobres e remediados (incluindo aí os paneleiros guindados à classe média, que começam a experimentar as agruras do retorno à pobreza), resta a alternativa de tornarem-se vegetarianos ou veganos, mas, seja como for, vamos ter que seguir na luta, agora pelo direito à proteína, mas sem abrir mão das bandeiras contra o ódio, a censura, o feminicídio, o armamento, a homofobia, a defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos, contra o AI-5, o fechamento do Congresso, do STF, a subserviência aos EUA ou à China…

#Pelo direito à proteína!

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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