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Brasileiro flagra morte de jovem palestina por soldados de Israel

BRASÍLIA – O fotógrafo brasileiro Marcel Leme, 30 anos, registrou, em setembro, a execução de uma estudante em um posto de controle de Israel na cidade palestina de Hebron. A jovem árabe Hadil al-Hashlomon, 18 anos, foi acusada de tentar atacar, com uma faca, os soldados israelenses que faziam a segurança do local.
As imagens, captadas em um intervalo de quatro minutos entre a abordagem militar e a queda da estudante no chão, causaram polêmica e contradizem a acusação de Israel. Nas primeiras fotos, uma mulher vestida de preto aparece a mais de dois metros de distância de soldados que carregam armamento pesado. Não há sinal de resistência ou de possível ataque da mulher. Na sequência, ela aparece caída no chão com sangue nas costas.
Diversos jornais estrangeiros – entre eles, o britânico “The Guardian”, os norte-americanos “Daily Mail” e “New York Times” e a principal agência de notícias do Oriente Médio, a “Al Jazeera”, – publicaram as fotos e deram destaque ao tema.

SEM FACA E SEM RESPOSTA
Na primeira entrevista à imprensa brasileira desde a divulgação das fotos, Marcel Leme garante que a jovem não carregava uma faca e questiona a postura de Israel de usar o simples porte de faca como justificativa para atacar a população palestina.
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) entrou em contato com o governo de Israel solicitando esclarecimentos sobre o episódio da morte da jovem palestina. O consulado do país em São Paulo disse que enviou as perguntas ao porta-voz do Exército de Israel e que aguarda uma resposta. O consulado enviou também um documento com o registro de 35 ataques a faca, de palestinos contra israelenses, nos meses de setembro e outubro deste ano. Segundo o registro, três israelenses e 20 palestinos morreram em decorrência desses ataques.

CRIMES COMUNS
O fotógrafo viveu três meses na cidade de Hebron – entre julho e setembro – como observador de direitos humanos de uma organização não governamental (ONG). Ele prefere não revelar o nome da ONG por receio de que a instituição seja impedida, pelo governo israelense, de continuar suas atividades no território da Palestina.
Apesar da repercussão do trabalho, Marcel é cético em relação a mudanças na relação entre Israel e Palestina. “Crime, como o que eu testemunhei, é só mais um. Eles continuam acontecendo”, diz. Desde o último fim de semana, pelo menos seis pessoas morreram na cidade de Hebron. Quatro delas tinham menos de 18 anos.

INCOMODADO
Paulistano, Marcel Leme é formado em geografia e começou a trabalhar como fotógrafo, em 2006, em assessorias de imprensa. Ele conta que viajou a Israel e à Palestina como turista, em 2013, e que ficou incomodado com o que viu – desde cidades cercadas por muros a aprisionamento de crianças. Por isso, resolveu se engajar em movimentos humanitários associados aos direitos dos palestinos e voltou a Israel em julho de 2015, já como observador de direitos humanos.
Desde que as imagens da execução foram divulgadas, ele evitou conceder entrevistas à imprensa brasileira. “A ideia era esperar a poeira baixar”, explica.
Leme autorizou, por escrito, a publicação na Agência Brasil das fotos tiradas em setembro em Hebron, mas fez uma ressalva: “Não autorizo a divulgação de fotos que contenham imagens da minha pessoa”.

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