Opinião

Bolsonaro prepara a tropa de choque para a derrota

(*) Fernando Benedito Jr.

Embora as pesquisas de intenção de voto venham demonstrando há meses e, em alguns casos há mais de um ano, de forma sistemática e consistente que Jair Bolsonaro vai perder as eleições, senão no 1º, no 2º turno, ele insiste na falácia de “eleições limpas” (seja lá o que isto quer dizer). No jargão bolsonarista “eleições limpas” são aquelas que ele ganha. Prega isso repetidamente a seus devotos, que saem pelas ruas, redes e bares, repetindo essa tolice de voto impresso, “eleições limpas”, voto com comprovante e que Lula é ladrão e que vai fechar igrejas, e o comunismo vai voltar sem nunca ter sido, enfim, as mesmas baboseiras de sempre. Lula já foi preso injustamente, Dilma foi cassada de forma vil, Bolsonaro foi uma excrescência que sugiu no vácuo de um golpe bem tramado em madrugadas palacianas, guindado ao poder pela comoção da facada e ela força do ódio.

Nos últimos meses, Bolsonaro tem infrigido todas regras eleitorais que configou abuso de poder político e econômico: capturou o 7 de Setembro para fazer comício, distribuiu o Auxílio Brasil em plena campanha, deu dinheiro para taxistas, caminhoneiros, baixou o preço dos combustíveis (coisas que poderia ter feito durante quase 4 anos no poder e não fez), criou o orçamento secreto, fez o escambau para tentar virar o voto do eleitor, mas nada deu certo. Exceto o fato de pisar na lei eleitoral. Por muito menos, políticos foram cassados, presos, tornaram-se inelegíveis. Mas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para não tensionar ainda mais o processo democrático que tem nas eleições e no voto sua maior expressão, fez vistas grossas. Qualquer medida mais drástica contra Bolsonaro torná-lo-ia um vitimizado, um herói da direita, criaria entre suas hostes a comoção e aumentaria a temperatura de seguidores cujo traço característico é a violência e o radicalismo contra democracia e contra quem não pensa como eles. Uma medida mais drástica contra este traste, talvez pudesse até melhorar sua performance eleitoral.

Então, a Justiça Eleitoral, por ora, se calou.

Eis que à medida em que vai se aproximando o pleito, o presidente retoma sua falácia em torno do questionamento das urnas, manda seus bate-paus do Exército fiscalizarem o processo de apuração de votos, como se tivessem alguma intimidade com isso. Como se durante os quase 30 anos de regime militar violento e sanguinolento, marcado pelo “desaparecimento”, tortura e morte, pela censura, pelo exílio dos opositores, não tivesse suprimido o voto popular, eliminado o sufrágio universal. Agora, sob as ordens do ex-capitão querem ser os “guardiães da democracia” com lugar de honra na fiscalização dos votos.

Desta feita, o TSE reagiu e disse não. Podem até fazê-lo, assim como os partidos, as instituições e observadores nacionais e internacionais, mas sem privilégios, sem serem os primeiros a colocarem as mãos sujas e contaminadas nas urnas.

Foi bom e pouco. Vamos ver como fica isso depois, sem o véu do sigilo de cem anos, sem a imunidade presidencial, sem o poder para remover a bel prazer delegados da Polícia Federal, sem a proteção de um Procurador Geral…

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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