Ameaça do presidente Jair Bolsonaro, de agredir um repórter de O Globo, repercutiu na imprensa do exterior
BRASÍLIA – A ameaça do presidente Jair Bolsonaro, de agredir um repórter de O Globo que o questionou neste domingo (23/08) sobre os depósitos no valor de R$ 89 mil feitos pelo ex-assessor Fabricio Queiroz na conta da hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro, repercutiu na imprensa do exterior. Todos destacaram as acusações e as constante agressões verbais do mandatário contra os jornalistas.
Para o jornal argentino Página/12, Bolsonaro “perdeu as estribeiras” porque não consegue explicar o dinheiro depositado por Queiroz. “A exaltação do presidente, corrida neste domingo (agravada com a ameaça de agressão) se explica não só pela sua fobia em relação aos jornalistas, mas sim pela sua falta de explicações sobre o dinheiro que o ex-militar Fabricio Queiroz depositou em nome de Michelle Bolsonaro”, afirmou.
“Conforme a imprensa vai solucionando o quebra-cabeças, começa-se a descobrir qual seria o método: utilizar o poder público para obter dinheiro ou valer-se das influências para fazer negócios. Durante as quase três décadas que foi deputado federal, assim teriam operado Jair Bolsonaro e seus filhos”, disse o jornal.
O britânico The Guardian descreveu o ocorrido no domingo. “Enquanto estava em frente à Catedral de Brasília, Bolsonaro chamou o jornalista de safado. Seus comentários desataram condenação imediata de membros da mídia e políticos de oposição”, afirmou.
O argentino Clarín também destacou as ameaças de Bolsonaro. “Em maio passado, os Repórteres sem Fronteiras exigiram garantias de segurança para os jornalistas que cobrem as declarações que o mandatário concede em frente à residência oficial da presidência ante o aumento dos ataques de seguidores do governante à imprensa”, lembrou o periódico.
A agência AFP, cujo texto foi reproduzido em jornais como El Comércio do Peru e El Universo do Equador, destacou a nota de O Globo sobre a ameaça do presidente. “Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população”, disse o jornal carioca na nota reproduzida pela agência.
A ameaça do presidente foi, da mesma maneira, notícia no jornal francês Le Figaro. “A pergunta do jornalista refere-se às revelações da revista Crusoé, que afirma, neste mês, que Fabrício Queiroz, policial aposentado, amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio Bolsonaro, teria depositado 21 cheques de R$ 72 mil reais para Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016”, relata o jornal. O valor de R$ 89 mil é complementado por outros cheques, os quais o presidente disse ser pagamento de um “empréstimo”.
