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Bolsonaro: entre a presidência e o espetáculo midiático nas redes

Fernando Benedito Jr.

A utilização das redes sociais e, principalmente, do Twitter para manifestar o que pensa, faz do presidente Jair Bolsonaro – e por extensão todo o clã, particularmente o youtuber Carlos Bolsonaro – um deslumbrado pelo show bussines. Tudo indica que ele não quer governar, mas somente aparecer e ganhar likes, assim como os youtubers e outros emergentes das redes que ficam alucinados quando o sucesso lhes sobe a cabeça. Inclusive, parece que Bolsonaro prefere a fama das redes à da presidência da República, a do mundo político. Não é uma coisa incomum. “Grandes líderes” chegaram à política pela via do sucesso artístico e midiático, como o cowboy Ronald Reagan, o palhaço Tiririca, o ator pornô e aliado de Bolsonaro, Alexandre Frota, a atriz pornô Cicciolina, Donald Trump, para citar alguns nomes “relevantes” da política internacional.

Print da página presidencial no Twiter: contando likes e seguidores

Em artigo no The Intercept, a professora, cientista social e antropóloga,  Rosana Pinheiro-Machado diz que “Bolsonaro é um palhaço de palco. Passou por diversos programas de auditório na TV e se tornou um fenômeno midiático, como bem apontaram os pesquisadores Victor Piaia e Raul Nunes. Entender sua eleição passa menos por teorias de escolha racional e mais pelas vísceras e pela emoção”.

A opção pelas redes sociais busca fugir ao debate mais amplo, como o atual presidente fez durante a campanha eleitoral. Argumenta que os meios de comunicação tradicionais (emissoras de TV, rádio, jornais, etc) lhe fazem oposição, portanto, não merecem seu apreço nem seu show. Além disso, em suas próprias plataformas, pode falar o que bem entender sem ter que enfrentar interrupções, perguntas descabidas que lhe deixam irado, e sofrer oposição (comentários e seguidores contrários são facilmente deletados). Faz um discurso monocórdio, sem necessitar de assessores para dar lustro às palavras, obedecer a liturgia do cargo e a elegância que os chefes de Estado deveriam ter. É tudo dispensável, porque o presidente não precisa de ninguém para lhe dizer o que fazer. É autossuficiente, um copo cheio que não precisa de mais conteúdo.

Ainda sobre o presidente brasileiro, o artigo do The Intercept compara: “Ele [Bolsonaro] tampouco é uma exceção: faz parte de uma tradição da cultura popular que vê a política como entretenimento e espetáculo. A apresentadora de televisão Cathy Barriga, no Chile, ou o ator Arnold Schwarzenegger e o boxeador Jesse Ventura, nos Estados Unidos, são alguns exemplos fora do Brasil de como famosos conseguiram seu lugar na política. O último, em especial, exatamente como Bolsonaro, começou com um nicho engajado em sua figura caricata, com 7% de intenção de votos, e foi eleito governador de Minnesota em 1998 como um outsider do sistema político “profissional”, proferindo um pioneiro discurso antiestablishment”.

O pensador italiano Umberto Eco, na melhor interpretação do “fenômeno Bolsonaro” disse ao receber o prêmio de doutor Honoris Causa da Universidade de Turim que “os idiotas antes falavam apenas em um bar e depois tomavam uma taça com vinho, sem prejudicar a coletividade. Agora eles têm avatar, local e personalidade. Não são leitores de livros, muitos não têm formação acadêmica, mas comportam-se como doutores e exímios conhecedores do assunto que se propõe a debater”. E arrematou: “As Redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”.

Salvo engano, parece ser o caso de Bolsonaro & filhos.

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