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Após denúncias, João Xingó se afasta do cargo de delegado regional

João Xingó, ao lado de Walter Felizberto, disse que autorizou a quebra de seu sigilo bancário e telefônico para dar celeridade às apurações da Corregedoria da Polícia Civil

 

IPATINGA – Ao lado do delegado Walter do Rosário Felisberto, chefe do 12° Departamento de Polícia Civil, o delegado regional João Xingó de Oliveira comunicou no final da tarde de ontem (19) que não está mais à frente da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil.
Ele pediu oficialmente o afastamento do cargo através de ofício encaminhado ao Chefe da Polícia Civil Jairo Léllis Filho, na última sexta-feira (16). Além do pedido, Xingó autorizou a quebra de seu sigilo bancário e telefônico. “Quero facilitar o trabalho da Corregedoria da Polícia Civil, por isso estou saindo. Se ficar comprovada a prática de alguma ilegalidade, vou responder isso civil e criminalmente”, disse.
O afastamento do delegado regional foi motivado pelas denúncias de corrupção na polícia investigativa do município de Coronel Fabriciano. As acusações foram feitas pelo presidente da Câmara do município, Francisco Pereira Lemos, no dia 6 de março.
O fato gerador das acusações foi a mudança na versão de uma suposta tortura atribuída a policiais militares da cidade, que teria tido como vítima o soldador Natanael Alves de Abreu.
“O vereador Lemos atacou a honra da minha instituição e dos meus comandados. Da noite para o dia eu e os meus policiais nos tornamos bandidos. Mas é necessário que se faça prova disso”, alegou.
Xingó classificou como levianas, inconsistentes e irresponsáveis as acusações de corrupção feitas pelo ex-delegado Lemos. Ele inclusive disse que aguarda o fim das investigações para buscar a retratação na Justiça.
“Ingressarei com ação criminal e de perdas e danos ao final dos trabalhos de apuração. Ele disse que eu estava recebendo propina de traficantes para aumentar meu patrimônio. Quero dizer que tenho apenas uma casa financiada da qual paguei apenas 25%. Faltam mais 15 anos para terminar de pagá-la. Tenho dois veículos, uma Van, na qual minha esposa trabalha, e um Pálio”, declarou.
Ainda sobre as declarações do presidente da Câmara, Xingó afirmou que as denúncias têm motivação política, uma vez que Lemos é um dos pré-candidatos a prefeito no município.
“Quando fui designado para o cargo de delegado regional, ele (Lemos) foi até a imprensa e deu várias declarações que a segurança pública ganhava muito com meu trabalho e minha força. Foram muitos elogios. Mas agora virei bandido na boca dele”, lamentou.

ENCONTRO
O delegado regional afastado contou ainda que recebeu Lemos em seu gabinete no início do mês passado na tentativa de fazer com que o inquérito policial da suposta tortura fosse assumido pela Delegacia de Ipatinga.
“O Lemos veio me dizer que foi procurado por policiais militares, pois a Polícia Civil estava acelerando uma investigação da polícia judiciária. Ele me pediu retirar o inquérito da responsabilidade do delegado Gustavo Cecilio”, revelou.
Foi então que Xingó pediu a Lemos que as partes envolvidas fizessem um documento relatando as irregularidades. Só que o ex-delegado não teria voltado mais a tocar no assunto com o “companheiro de corporação”.
“Logo depois que ele saiu da minha sala, fui falar com a delegada Irene Franco sobre o caso e o pedido do Lemos. Ela me aconselhou a não fazer a transferência do inquérito, pois isso tiraria a credibilidade da instituição, tanto que não fiz”, falou.

INTERFERÊNCIA
Após esse encontro, Xingó afirmou que o ex-delegado passou a interferir de forma explícita nas investigações e procurou fraudar as provas.
“Ele esteve na casa do Natanael e o conduziu em seu próprio carro até o 14° Batalhão da Polícia Militar, onde a vítima afirmou para um oficial que a Polícia Civil estaria trabalhando de forma criminosa”, disse.
Segundo a cronologia de Xingó, esse depoimento à PM ocorreu em 23 de fevereiro. Foi nesse mesmo dia que Natanael compareceu à Delegacia de Coronel Fabriciano, acompanhado de um advogado, e prestou o depoimento perante a polícia judiciária.
Além de recontar com detalhes a tortura que teria sofrido, Natanael relatou que recebeu de Lemos R$ 500 a título de ajuda. Essas informações constam no inquérito policial do caso, bem como o exame de corpo e delito que confirma que a vítima sofreu lesões na região anal.
“Desviaram a atenção dos fatos diante das denúncias, mas com base nas provas que constam no inquérito da Polícia Civil, houve mesmo uma tortura e isso não pode ficar esquecido”, discursou. Depois, Natanael negou qualquer tipo de tortura e disse que foi forçado pela Polícia Civil a fazer as acusações.

DENÚNCIA ANÔNIMA
Antes das acusações de corrupção contra Polícia Civil de Coronel Fabriciano virem à tona no início deste mês, uma denúncia anônima feita em 5 de setembro do ano passado já dava conta da má conduta de policiais do município.
Segundo Xingó, tão logo soube dos fatos foi instaurada uma sindicância para averiguá-los. A principal testemunha foi um advogado que atribuiu à PC de Coronel Fabriciano vários delitos, inclusive a prática de escuta telefônica ilegal.

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