Cidades

Alianças e danos colaterais

(*) Fernando Benedito Jr.

A aliança do Partido dos Trabalhadores com o PSB acabou gerando uma série de embaraços pelo País afora que tira a razão de todo mundo. Um verdadeiro angu de caroço. Sob o argumento de fortalecer a candidatura de Fernando Pimentel em Minas Gerais, tirando Márcio Lacerda do páreo, a aliança acaba detonando a candidatura da petista Marília Arraes em Pernambuco, trocando-a pela reeleição do governador Paulo Câmara (PSB), que, dizem, não tem nada a acrescentar. De quebra, isola Ciro Gomes (PDT), que, com razão, critica a aliança, afirmando que o PT está “bailando à beira do abismo”, ao mesmo tempo que em que se considera vítima de um golpe. Isolado, Ciro acabou atraindo o apoio da mídia tradicional que passou a incensá-lo como forma de fustigar a tática petista. No final das contas, pouco se apura, porque os revoltosos do PSB, “rifados” pela aliança com o PT vão engrossar outras fileiras como a de Alckmim, do PDT e outros palanques regionais, para se vingar. “Ninguém pode falar em golpe e praticar o golpe”, reclama Ciro, vaticinando: “Esse comportamento está na base moral da corrupção”. Ele próprio, entretanto, pouco fez para tentar uma aproximação com o PT. Na verdade, mais criticou do que foi solidário.

Em Minas, por exemplo, Márcio Lacerda não tem do que reclamar. Quando o PSB era a aliança principal do PT, juntamente com o PC do B, Márcio traiu o acordo de maneira deslavada. Ganhou o apoio petista para ser prefeito e depois cuspiu no prato que comeu e foi para o baile com outra namorada.

No balaio de gatos em que se transformou a política de alianças, pouco importa se há afinidades ideológicas, coerências programáticas. Conta muito mais o Fundo Partidário, o tempo de TV, eventuais cargos e outras “mercadorias” subjetivas negociadas nas bancas do mercado político-eleitoral. Só interessa a vitória e em nome dela, a transação vira um escambo só.

“Quem defende a aliança do PT com o PSB, o faz em nome de deliberações de ordem pragmática, a real politik que criou as condições para que fosse dado um golpe em Dilma e no país e colocado Lula na cadeia”, diz em tom professoral Liana Cirne Lins, que apoia Marília Arraes e é pré-candidata a deputada, pelo PT, em Pernambuco. Sua análise faz sentido, mas é preciso avaliar além de Pernambuco para governar o País, para retomar o processo democrático, o que inclui Lula Livre e a colocação em prática de um programa de governo que retome o crescimento, as políticas sociais, a soberania nacional.

Sobram críticas de aliados e adversários por todos os lados, mas o fato é que todos buscam alianças nos campos mais estranhos. Até outro dia, Ciro disputava com Alckmin o apoio do chamado Centro Democrático, que inclui o que há de pior na política nacional. Quando o Centrão optou por Alckmim, Ciro, o Grande, se viu em seu primeiro isolamento e começou a dizer aos quatro ventos que o Centrão não prestava. Foi se consolar com Marina Silva, ambos magoados com o PT.

Bolsonaro, depois de procurar e não encontrar sequer um vice, entre os piores que se pode cogitar, também saiu atirando – como lhe convém – por todos os lados.

Ao fazer o acordo com o PSB, o PT gerou sérios danos colaterais, o “fogo amigo” é o pior deles e atinge candidaturas que o próprio Lula, até outro dia, defendia com garra, como Marília Arraes. Tudo indica que esse desacerto deve ser revisto. Mas já causou estragos.

O arranjos e desarranjos da política de alianças são inevitáveis e não atingem esse ou aquele partido isoladamente. Não se consegue fazer uma política de alianças nacional, sem ferir interesses e estratégias estaduais e regionais.

Contudo, é preciso ter algum critério. Ao PT, parece ilógico, incoerente e mesmo surreal, estabelecer alianças com aqueles que foram a favor do golpe que destituiu Dilma Rousseff e colocaram Lula no cárcere.  Afinal, já se viu que esta é a mais espúria das alianças. De que adianta se eleger com elas e não poder governar com elas – ou pior, ser apunhalado pelas costas por aqueles que foram guindados ao poder graças a esta tática eleitoral estapafúrdia.

Temer que o diga.

(*) Fernando Benedito é editor do Diário Popular.

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