Internacionais

A política externa dos Bolsonaro

(*) Fernando Benedito Jr.

Um antigo provérbio diz que há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. E as palavras ditas tem sérias conseqüências, como já pode se ver pelos pronunciamentos do futuro governo pós-verdade. E não é necessário que assuma o poder para que suas intenções se revelem e sua ideologia retrógrada se torne explícita. Não há o que esperar, embora os bolsonaristas acreditem que é preciso dar tempo ao tempo, que é preciso deixar o “homem trabalhar”.

Ao sustentar que o “escravismo” dos médicos cubanos no País era uma “injustiça”, deixou centenas de cidades sem atendimento médico e a maioria delas, a julgar pelo silêncio sobre a reposição destes trabalhadores, continua sem eles.

Ainda em território latino-americano, Bolsonaro pai e o “chanceler” Eduardo Bolsonaro já manifestaram mais de uma vez sua vontade de depor o governo “comunista” bolivariano da Venezuela, se for o caso até pelas armas, com a ajuda dos “marines” americanos, óbvio, já que o Brasil do ex-capitão e dos generais não agüenta uma hora de guerra. Apesar disso, já arrumou confusão também com os chineses, por razões comerciais, também para atender a interesses de sua aproximação com os EUA, mas depois voltou atrás.

Ao afirmar e reafirmar sua intenção de mudar a Embaixada Brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, despertou a “ira sagrada” do mundo árabe. Em resposta, a Liga Árabe entregou uma carta ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro na segunda-feira (10) dizendo que a mudança pode afetar as relações multilaterias. Embaixadores de nações árabes se reuniram em Brasília para discutir o plano de Bolsonaro.

O comércio com os países árabes responde por 5% do PIB nacional e gera superávit comercial de R$ 7 bilhões ao país. Perguntado sobre a mudança de cidade da representação diplomática, o filho do presidente eleito, Eduardo Bolsonaro, que é um dos conselheiros do pai, afirmou que a mudança “sai, o negócio é quando”, em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, na semana passada. “Eu sou entusiasta para que seja no primeiro mês do governo”, disse o parlamentar.

Eduardo Bolsonaro, que tem se metido na política externa como um chanceler paralelo, cujo principal papel é colocar o Brasil como lacaio dos Estados Unidos, um verdadeiro “lambe-botas”, cuja subserviência aos interesses americanos se revela na adoração a Donaldo Trump, tem sido um desastre toda vez que abre a boca.

Nesta quarta-feira, as posições brasileiras também irritaram os líderes da União Europeia. O tempo está se esgotando para um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmando a parlamentares que o novo governo brasileiro do presidente eleito Jair Bolsonaro tornará o tratado mais difícil de ser alcançado.

Por último, o futuro “sub-chanceler” – porque as incursões internacionais do filho Bolsonaro vem em primeiro lugar –, Ernesto Araújo, defendeu a saída do Brasil do Pacto Global sobre Migrações. “O governo Bolsonaro se desassociará do Pacto Global de Migração que está sendo lançado em Marrakech [Marrocos], um instrumento inadequado para lidar com o problema. A imigração não deve ser tratada como questão global, mas sim de acordo com a realidade e a soberania de cada país”, afirmou em sua conta no Twitter.

A “intenção”, mexeu até mesmo com os brios do atual chanceler Aloysio Nunes, para quem o pacto é compatível com a realidade brasileira. “Li com desalento os argumentos que parecem motivar o presidente eleito a querer dissociar-se do Pacto Global sobre Migrações. O Pacto não é incompatível com a realidade brasileira. Somos um país multiétnico, formado por migrantes, de todos os quadrantes”, disse o atual chanceler do moribundo governo golpista.

Manifestações de uma ideologia de extrema direita que o mundo começa a experimentar, ainda que o futuro presidente afirme que é preciso acabar com as ideologias, governar sem ideologias (pelo menos as de esquerda), Bolsonaro já sinaliza para onde quer ir. Além, claro, de entregar o País aos americanos e seus aliados, parece preferir a companhia dos ricos, interna e externamente. Aqueles mesmos que sempre exploraram o Brasil e a América Latina e nunca deram nada em troca.

São as escolhas. No caso, um “complexo de vira-latas” reverso, isto é, para beijar mão dos EUA tem-se uma autoestima imensurável. Em relação ao resto do mundo, desprezo.

Quanto a esperar para ver, esperemos. Mas o mais certo é que voltem atrás em grande parte destas declarações arrogantes e prepotentes, já que em relação às palavras ditas, o antigo provérbio não tem muito a ver com o futuro governo.

 

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.

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